A Barata e Eu
Sempre que posso, caminho pela rua, no meio dos carros. Cheguei à conclusão de que calçadas são perigosas demais. Principalmente quando temos pressa, tudo parece convergir na nossa direção: perdidos, idosos, deficientes, bicicletas, cachorros, abobados, babás com carrinhos de bebê, pais com alfabetizandos e suas malinhas, carros saltando das suas garagens, paredes humanas ocupando de lado a lado a largura já insuficiente e muitas vezes irregular dos passeios. E o pior é que são imprevisíveis: o que está andando pára, o que está parado anda, o que está indo pra esquerda quebra pra direita, a maioria como quem não dirige e muito menos registra o que vem pela frente, forçando os demais pedestres a uma espécie de direção defensiva na calçada. Não veem? Não ligam? Se acham bons demais pra se desviarem do outro e não o contrário?
Dia desses resolvi tirar a prova: vi e não desviei. Esperava pelo pior, que de fato aconteceu.
A barata e eu atravessávamos a praça em sentidos diametralmente opostos, um debaixo do nariz da outra. Fez que ia pra cá, fez que ia pra lá e bingo: direto no meu sapato. Devolveu meu olhar de frustração com um de espanto seguido de murmúrio ainda tonto, como quem de repente cai em si: “Oh! Desculpe!”
Entendendo menos ainda e me perguntando como até hoje não fora esmagada por algum carro a barata que já aparentava mais de quarenta anos (e pra piorar carregava um guarda-chuva espeta-olho sob o mais leve chuvisco), meneei a cabeça e segui meu caminho.
Deus proteja quem anda em ziguezague pela calçada.