De Dinhos
Quem, em sua vizinhança, um Dinho não tem. Na minha, dos tempos de infância, houve dois, que mesmo crescidinhos, continuaram Dinhos depois.
O mais próximo era o da Bia, Romualdo, de pia. Mas não muito distante, bem em volta do Largo de São José, e um tiquinho menor, só, tava o da Tó.
Pois é, ambos umbelicalmente associados ao nome da mãe. E não que lhes fosse ausente a figura do pai. Mas mãe é mais, do fogão ao tanque e, em todos os lares, aos boletins escolares.
E na faina escolar, a ela indo, ou dela fugindo, em nossa viela, sempre andavam os Dinhos a passar. E se não se entretinham com nosso quase permanente futebol, contentavam-se em avacalhar. Foi do da Tó que guardei o refrão inesquecível:
- Se eu num jugá, eu avacaio...
E a escalação - sem escolação naquele dia - era garantida. Mais amistoso, o da Bia nem pedia. Sua garra exigia.
E viraram moços, amadureceram e, se mudaram, não esqueceram, nem ser esquecidos se deixaram. O caminho do da Bia foi a música, sua pauta permanente do dia, embora fosse a noite sua mais permanente companhia. Por anos tocou no Norberto, no Labareda de BH, até a chama baixar. Na volta à Velha Serrana, retomou a domesticidade sempre em coisas eletrizantes, ainda que com risco de encontros chocantes. Hoje, pacífico sempre amigo, continua visível todas as manhãs, a passear com o cães...
Já o da Tó, tomou rumos más lejanos, sem a companhia da música. E, como toda família se mudou, sua presença serrana raleou. E vida levada, sempre levou. A mais recente notícia de seu paradeiro - já bem ordeiro - dá conta de uma detenção numa blitz em paulistana periferia. O que o salvou de uma eventual reclusão foi saber responder ao delegado que o inquiria o nome de três parteiras pitanguienses, entre as quais, a própria mãe do inquiridor delegado se incluía. Ganhou até carona para o retorno ao lar. Nasceu de novo.