Abreviaturas

Mania feia essa de abreviar tudo.

Abreviamos os risos.

Abreviamos afetos.

Abreviamos sonhos.

Abreviamos os papos.

Pomos culpa no relógio... No trabalho... Nos estudos... Na rotina.

Os encontros são ocasionais.

As ligações, de emergência.

As conversas, breves.

Os planos, adiados.

100% hoje em dia só na bateria do celular.

Somos 50% (ou quase isso). Pra tudo.

E mesmo assim não damos conta desse "tudo".

Questão de prioridades? Ou falta de vontade mesmo?

O dia sempre teve 24h.

O ano permanece com seus 365 dias.

Mas você mudou. De ideia... De emprego... De cidade... De relacionamento.

E o que era inteiro ficou pela metade.

Alguém saiu perdendo.

Uns com mais, outros com menos.

E nessa levada, periga abreviarmos nossa essência.

Aquilo que fomos um dia e ainda nos referem assim.

A memória emotiva do que arrancava a nossa gargalhada mais alta.

O sorriso mais largo.

O abraço mais sincero.

Os desejos mais profundos.

Os prazeres mais latentes.

Encurtemos a distância de quem nos faz bem.

Sintetizemos as implicações do dia-a-dia.

Resumamos nossos obstáculos.

Aceleremos a caminho da felicidade.

Até zerarmos essa tal abreviatura.

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