O abraço do silêncio
O silêncio chegou leve. Todas as palavras anteriores à ele já haviam doído demais. Todas as tentativas de entender, de explicar, de tentar encontrar justificativas ou respostas vãs. O tempo de falar havia terminado. Já havia sido dito demais e o ânimo, as forças ou a vontade já não andavam na direção de tentar fazer perceber o óbvio. Nem que eu desenhasse...
O silêncio não me trazia pesos ou medos, mas vinha atrelado a uma certa maturidade. É, parecia, que enfim eu estava crescendo de fato. Ou apenas exausta demais para insistir no que há tempos eu já sabia que não havia conserto. Por mais que eu tivesse essa mania meio ingênua de querer consertar o mundo e de confiar que as pessoas poderiam sempre ser melhores. E ainda acho que sim... Ainda acho que todos somos capazes de ultrapassar a si mesmos, superar os seus defeitos e fazer crescer as qualidades. Mas isso é já outra história para um outro momento...
Tendo tudo sido dito, só me restou mesmo o silêncio e ele não era duro ou pesado ou grosseiro comigo. Quase que eu podia senti-lo afagar meus cabelos e tomar-me com carinho nos braços. Ele não queria mais me ver sofrer e sabe que eu tbm não queria? Não queria faz tempo por isso ia fingindo não ver umas certas coisas e me pegava agarrando-me à outras, como a certeza de que todo ser humano evolui à seu tempo. Isso me confortava um pouco e fazia ser mais paciente e compassiva. Eu pensava sinceramente que talvez aquilo tudo fizesse apenas parte do aprendizado, algo pelo qual eu tivesse que passar por algum motivo e que era tão pequenino diante das bênçãos da vida.
E eu ia indo crendo nessa força maior que nos empurra para o bem. Acho que um pouco por isso o silêncio veio como um avô afetuoso para mim agora. Porque eu entendo que, independente de como tudo aconteça, existe um propósito maior a se fazer cumprir. Entendo que como algumas coisas iniciam elas acabam. Que ciclos precisam ser fechados. É claro que dói um pouco e é claro também que eu chorei. De início me abraçou o desespero e logo desceram as lágrimas, mas passou tão depressa e logo meu coração ficou tão sereno e certo do que devia fazer. E foi nesse momento que o silêncio chegou e me pegou pela mão, me fazendo entender que de nada adianta berrar ou espernear se a ação não existir.
Eu pedi um sinal e Deus me concedeu o pedido. Agora é ter a serenidade pra aceitar que essa caminhada chega ao fim e que terei de por outros caminhos andar a partir daqui. Mas nada roubará os sorrisos de mim - os que eu já dei e os que ainda ei de dar. Tudo de bom eu levo em meu coração e o que for pesado e feio entrego ao tempo para que unido a força do vento ele possa dissipar.