INTERPRETAÇÕES MUSICAIS - DISPARADA

As interpretações dadas pelos textos que nos deparamos, muitas vezes levam pessoas para idéias bem diferentes. Quanto mais complexos e profundos forem os textos, maiores serão as possibilidades de uma pluralidade nas interpretações.

Disparada, por exemplo, de Geraldo Vandré, sempre contou com minha admiração e minha emoção, mas, pelo o que pude constatar hoje, isso tudo estava muito mais ligado a música, propriamente dito, com sua melodia forte e de sangue nordestino, do que com sua letra.

Quando vi uma reportagem que tinha o Geraldo Vandré contando sobre a época dos festivais, ditadura e, sobre suas consequências, li novamente a letra de Disparada, daí minha cabeça começou a fazer suas analogias. No estrofe:

´Na boiada já fui boi, mas um dia me montei

Não por um motivo meu, ou de quem comigo houvesse

Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade

Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu´

Consegui visualizar o começo da aflição de alguns que hoje assumem grandes papéis de lideranças, mas na verdade, não era bem isso o que desejavam para suas vidas. Bruscamente foram chamados a liderar, pois o cargo estava vago e, o patrão não tinha ninguém capaz e de sua confiança para colocar no local, daí, viu no dedicado e talentoso funcionário, a única salvação para a vacância de seu gerente, usando a seguinte lógica: se ele é um excelente funcionário, certamente será um grande CHEFE.

Já no estrofe:

´Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte

Muito gado, muita gente, pela vida segurei

Seguia como num sonho, e boiadeiro era um Rei

Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo

E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando

As visões se clareando, até que um dia acordei´

é possível visualizar um ex-peão, hoje chefe experiente, consciente do papel que assumiu e, das merdas que fez por obrigação, subserviência e necessidades geradas pelo sistema ao qual ele foi socado . No entanto, essa consciência o fez crescer, mesmo no carbureto, e ele está disposto a retomar sua vida, não do início, mas daquele ponto, pois sua lucidez o revelou o quanto aquele pobre homem, era subutilizado e explorado.

Sei nem se esse foi o pensamento do autor, mas, como disse anteriormente, quando expomos os nossos textos, eles ganham muitas interpretações e, em mãos maliciosas, podem ser manipulados para resultados desastrosos. Isso me lembra o avião, criado para fins brilhantes e, no entanto, foi utilizado para levar bombas que destruíram a vida de muitos.

jrogeriobr
Enviado por jrogeriobr em 27/05/2016
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