DESCULPA, QUERIDA!
Com o cenário atual após o afastamento da Presidenta Dilma Rousseff, o enredo do GOLPE vai tomando forma e a trama vai sendo compreendida em capítulos. O STF, a maior instância do poder judiciário, está desmoralizado, seus ministros envolvidos em esquemas de favorecimento e, como disse o ex-presidente da Transpetro, braço logístico da Petrobrás, na gravação com o senador Renan Calheiros: ‘Nunca vi um Supremo tão merda’.
Em um país menos imperfeito, o STF seria dissolvido com as acusações que caem sobre seus membros. Na gravação, Renan Calheiros diz que os ministros do supremo estavam ‘putos’ com Dilma por conta de dinheiro. Renan diz na gravação que Ricardo Lewandowski, presidente do STF, foi ao encontro de Dilma e a Presidenta teria dito que pensava que o encontro seria de alto nível para tratar da conjuntura política, mas ele ‘só veio falar de dinheiro. Isso é uma coisa inacreditável’, disse Dilma a Renan.
O governo provisório tem no comando um presidente impostor que nomeou vários investigados para seu ministério, lhes dando foro privilegiado. Em menos de duas semanas o governo teve uma baixa no ministério. Romero Jucá, ministro do planejamento e articulador do governo, que é investigado na operação lava jato foi exonerado, depois da gravação em que desmonta a tese do impeachment e fortalece o objetivo do GOLPE. Jucá disse que o plano para barrar a lava jato teria como meta tirar Dilma e colocar Temer, só assim ‘estancariam a sangria’.
A Presidenta contrariou políticos quando vetou o financiamento empresarial de campanha; a FIESP, quando vetou a precarização do trabalho evitando as consequências da desproteção social; os corruptos, quando liberou a PF para investigá-los, além de não ter cedido às chantagens do ex-presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha.
Agora que o GOLPE foi revelado e a natureza corrupta desse governo exposta, não custa refletir sobre o contexto, analisar se o impeachment foi constitucional. Se não seria mais produtivo cobrar do Congresso que trabalhasse, que não emperrasse as pautas do governo, alimentando a crise para impopularizar a Presidenta diante da opinião pública, que agora, com a verdade descoberta, percebeu que era só para tirá-la do governo para barrar as investigações.
Mesmo consciente, desde sempre, de que a oposição trabalhava nos bastidores junto com a mídia e com o grande capital, incorporado nos interesses da FIESP; mesmo atento na defesa da democracia e apontando a injustiça histórica que se desenhava, sinto-me responsável pela crise que não criei, que não defendi; responsável pelas mãos fascistas que não apertei, pelos gritos racistas que não gritei, pelas camisetas amarelas que não vesti, pelos ‘pixulecos’ que nunca segurei. Sinto-me responsável pela vergonha que não sinto, pelo analfabetismo político que não tenho, por tudo, peço desculpas a Presidenta Dilma Rousseff.
Ricardo Mezavila.