Pequenas histórias 139
Queria escrever
Queria escrever como os profissionais. Escrever sem parar, sem pensar muito no que deve ou deveria escrever. Ir colocando no papel da telinha branca, tudo o que a mente alucinógena fosse mandando os dedos escreverem. Mas um escrever leve e ao mesmo tempo profundo, que fizesse com que o leitor entrasse nas palavras e dela não saíssem mais. Que delas tirassem a essência dos passos na calçada podre da humanidade sem destino. Alguns pensam que há em seus passos, em seus caminhos um destino para se chegar. Qual o que? Estão totalmente iludidos em profetas fajutos que pensam somente no dinheiro que possam arrancar dos fieis. Iludidos não distinguem mais o positivo dos atos fabricados especialmente para iludi-los. Fracos, sem apoio caem na armadilha e se entregam totalmente perdendo, sem saberem, além das calças, a alma. Queria escrever sonoro como sonoro é a vida suave deslizando na calçada da compreensão, na calçada onde reina o amor retribuído, mesmo que seja um amor pequeno, um amor comprado, mas retribuído se torna esplendido. Como a fragrância de um sorriso ingênuo sem saber o que lhe passa, ou mesmo, um sorriso safado, mais gostoso, mais prazeroso levando-o ao extremo de sentir a si mesmo. Um sorriso franco, fiel, sincero na integridade de se doar ao mesmo tempo receber. Um sorriso que ilumina as sombras enchendo de luz o coração afetuoso. Ele queria escrever ao mesmo não escrever pois, sente-se preso ao fatalismo de ser ele próprio encalacrado em seus sofismas e fantasmas tímidos que não lhe dão a liberdade necessária. Teimoso escreve e, continuara a escrever queira ou não queira, continuara sim, nas sombras das palavras é que esta toda a sua esperança de beijar a felicidade de ser ele mesmo. Ele viverá, sabe disso, viverá toda a eternidade que lhe é necessária viver, até que a ultima pedra seja colocada no edifício intelectual do seu saber. Ele viverá, sabe disso, viverá enquanto houver um sorriso a iluminar o mundo...
pastorelli