O TOMBO

O TOMBO

26 mai 16

Bela manhã de uma quinta feira de um céu azul com nuvens brancas e avermelhadas, que marcavam a temperatura amena deste final de maio. Ouvindo Rita Lee no FM do celular cantando um de seus rock’s que embalaram a minha adolescência, caminhava em zig e zag pelas alamedas da praça. Via cabeças nevadas com passos apressados ou num trotar querendo recuperar a forma retilínea das atuais barrigas ovais que denotavam uma mocidade vivida sem preocupações com o preço do dólar ou com a queda da bolsa. Alguns “bons dias” dados em reposta a outros caminhantes ou ao ver conhecidos em passos e cadências superiores a minha. Flagro um beijo inocente e simpaticamente dado por uma assistente de saúde, que se preparava para uma jornada de assistência a população em consultas oftalmológicas em uma grande carreta estacionada na alameda da cultura de uma Praça da Liberdade ainda que tardia, em uma faxineira que, com cuidado, limpava a escada de acesso a carreta. E foi neste cenário de esperança com a raça humana é que começo a pensar na chegada próxima de meu neto, Caetano, pedindo que ele tenha todas as alegrias que tive e mais algumas ou várias e que seus momentos menos felizes sejam cercados de carinho, amizade e amor. Pensei se ele usaria óculos ou se teria cabelos brancos um dia. E nesta combinação de pensamentos, sentir cheiros, ouvir e caminhar, repentinamente céu e terra se mistura, a cor avermelhada da pista de caminhada se sobrepõe aos verdes galhos dos arbustos e da grama, levo a mão esquerda ao bolso da camisa protegendo o bem maior de toda a humanidade moderna, o celular. Instintivamente jogo o corpo para frente e com o braço e a perna direita semiflexionados, elevo a cabeça, me preparando para a ação da lei da gravidade e me vejo ao solo. Tão rapidamente quanto procuro me levantar e recompor, sou solidariamente questionado se estava bem por aqueles que anteriormente levavam suas barrigas ovais que agora se apresentavam quase em forma física perfeita, talvez devido ao simpático espírito humanitário. Apresso em agradecer a atenção e digo estar tudo bem e que apenas havia esfolado joelho e cotovelo direito, maldito celular, e com um “sem jeito” não tão grande quanto a queda retomo a caminhada agora em direção ao meu carro estacionado a uns cem metros do local onde céus e terra se misturaram desistindo do último quilometro programado como penitência aos excessos.

Enquanto escrevo sinto a ardência de tal esfolamento já decorrido um par de horas de uma assepsia cuidadosa com água e sabão, álcool gel e finalizada pela aplicação de própolis verde que me fará ter mais cuidado na caminhada de amanhã.

Geraldo Cerqueira