LEMBRANÇAS DE OUTONO
Dias chuvosos, a água correndo pelas valetas da rua, olhinhos de criança fixos na água barrenta que murmurava um canto amigo no seu caminho imperturbável.
Vontade de fazer barquinhos de papel, e soltá-los naqueles rios de mentirinha. Olhos de criança se acenderam, correram pegar jornal velho, e pôs-se a montar barquinhos cheios de tinta preta e coloria.
Passo seguinte, colocar os barquinhos nas valetas de água barrenta, para vê-los navegar sabe-se lá para onde. Pura alegria.
Mas, mal estavam na água, os barquinhos se desfaziam, para tristeza dos olhinhos infantis. Mas, não importava. Seus barquinhos conseguiam navegar pelo menos alguns segundos....
Hoje, neste outono de lembranças estremecidas no coração, lembro de que os sonhos idealizados durante a vida, só conseguiram durar tanto quanto meus amados barquinhos dos olhos de criança.
Mas foram sonhos intensos, vividos com a certeza de que me trariam o encanto de havê-los sonhado, de havê-los tentado, e de havê-los enviado para os rios da vida, que deixaram um quê de encantamento e de ternura, de um ser não muito grande, nem muito pequeno, mas, apenas, um ser “humano”, com olhos de quem busca nos outonos, hoje, as lembranças da menina feliz que para sempre povoará os seus melhores pensamentos e as suas mais bonitas emoções.
Saleti Hartmann
Professora/Pedagoga e Poeta
Cândido Godói-RS