Sobre ser mediano
Há muitas formas de se falar do Amor, que não somente os de relacionamentos amorosos de dois românticos apaixonados. O Amor maior, o do Ser Humano, o amor de pais, de filhos, de irmãos, de amigos de infância, de carências afetivas, do amor romântico porém genérico, de desabafos codificados para se preservar pessoas queridas, etc.... Mas, cada um lê com os olhos que tem é é sempre um risco ao qual todo poeta se expõe quando publica seus poemas, o de ser mal interpretado. Aliás, a boa poesia nem é para ser interpretada mas sentida e o autor é quem menos deveria importar.
E, dos poetas, há os grandes e os medianos. A diferença entre os leitores de ambos está na capacidade dos grandes em saber escrever de modo a criarem um público que também seja grande o suficiente para entender as suas entrelinhas. Estes, admiro-os, com sinceridade.
Hoje quero falar um pouco dos poetas medianos, como eu, e o preço que pagam (os) porque, devido à sua inabilidade, acabam induzindo os seus leitores à interpretações rasas dos seus poemas. Ainda mais em se tratando de um portal tão aberto e diversificado como é o Recanto das Letras, criado para escritores não profissionais e também, e principalmente, para leitores de todas as faixas de idade, formação cultural, e QIs altamente variáveis.
E quero falar, ainda mais especificamente, para as mulheres poetas, medianas (como eu) e o risco ainda maior que correm (os) pois criou-se um falso conceito na Literatura que mulheres não sabem falar de outra coisa que não dos relacionamentos sexuais em seus poemas. É muito grave isso e precisamos alertar a escritoras e leitores da distância que deve haver entre poema e poeta. Criação artística é uma coisa e vida pessoal de sua autora é outra coisa e isso deve estar sempre claro na mente de quem lê.
Grande parte deste estigma vem da inabilidade, como falei, de quem escreve, mas também da cultura do leitor.
Já descobri faz tempo, pelos comentários que eu leio em postagens minhas ou de outras poetas, que a maioria dos leitores do Recanto não sabe detectar outras formas de Amor em um texto se ele não for explícito. Por exemplo (explicitando): se a poeta estiver se referindo ao seu pai e falar do amor entre eles mas não mencionar a palavra "pai" no poema, poucos saberão que é do pai que ela está falando e daí a uma interpretação equivocada de todo o poema é um pulo.
De minha parte devo dizer que isso sempre me incomodou mas nunca tive competência para fazer melhor, então não posso reclamar. Só lastimo. Eu me classifico no rol dos grandes leitores, já desenvolvi a capacidade de reconhecer os grandes poetas. Porém, como escritora, sou poeta amadora, mulher e mediana. E por tanto prezar as entrelinhas do que escrevo e leio, sofro em dobro. Fazer o que...
Aproveito a oportunidade para dizer que foi por este e outros motivos que desabilitei a opção de comentários da minha página. Aos que entenderem agradeço.