Cemitério Floral
O pólen das flores, iluminado pelos vagalumes que se acomodavam nas pétalas úmidas com o orvalho da noite, pôde ser visto cair ao chão abruptamente. Passos fortes (até demais). O estrago foi feito. Flores esmagadas, sem vida, sem cor, sem nada.
À Pequena revira-se por entre o cemitério floral com à esperança de conseguir levantar-se, e voar, voar para casa, voar para vida. Mas tentativa em vão, suas asas também foram esmagadas pelos caules que caíram sobre elas.
À lua brilha forte no céu, e seus olhos vislumbram às sombras das árvores secas ao serem passadas pelo Grande, que ao virar-se para conferir o estrago lhe proporcionou o mais belo par de olhos amarelos faiscantes que já vira, como duas estrelas vivas e pulsantes. O mesmo amarelo que o seu, que agora está encoberto por suas asas esfareladas. Mais uma tentativa, e nada, nem mesmo seu som era capaz de mover-se para fora de sua boca. Então, ali imóvel, a Pequena deitou-se, sozinha, e esperou pelo fim.
O dia amanheceu mais cedo do que de costume, gélido, e sem nenhum resquício de vida. Nem mesmo o canto dos pássaros podia ser ouvido. O Grande vinha a passos largos (já não tão fortes) em direção ao campo, onde se acumulava à vida que faltara no bosque. Ao aproximar-se do estrago que fizera à noite, avistou à Pequena. O sol que até então estivera ausente acompanhou seus passos até ela, e quando à pegou sobre suas mãos, como um grão de areia, quase escorregou por entre seus dedos, à despertando.
À Pequena, abriu seus olhinhos, e o sol iluminou seu amarelo, que já não estava ofuscado pelos farelos de suas asas que voaram com a brisa leve e fresca da manhã. Encarou às estrelas faiscantes do Grande que aparentavam estar mais pulsantes ainda, e vivas, assim como ela.
E o milagre da vida se fez presente mais uma vez nesse amanhecer, como em muitos outros, evidenciando à fragilidade dos pequenos e à força dos grandes, que juntos, completam-se, e espalham a magia de existir e ser, amar e viver.
- Por Alexandre (o Grande), e sua Pequena abelhinha.