ÚLTIMAS PALAVRAS
Ontem aproximadamente às 9:40 da manhã encontrei o Prof. Sérgio Pereira da Silva, professor de filosofia do Curso de Pedagogia, à porta dos sanitários do Bloco I de salas de aulas da Regional Catalão da Universidade Federal de Goiás. Fizemos os cumprimentos de praxe e falamos amenidades. Era intervalo de aula, íamos ambos aos sanitários. Mas eles estavam inderditados para faxina. Conheço muito pouco o Prof. Sérgio, embora o cocheça faz tempo. Não temos hábito de conservar. Só no âmbito do que já foi relatado. Mas então ele começou a ficar indignado, e a falar comigo sobre nossa situação. Indignado com o que considerou como caso de má gestão, esse fato de colocar o pessoal da faxina fazer limpeza de sanitários exatamente na hora do intervalo, no local de aulas. Mas era uma indignação triste, desanimada. Comentei qualquer coisa que não me lembro mais. Despedi-me e deixei-o lá com aquele nervosismo calmo. Encaminhei-me aos sanitários do Bloco II. Achei-o estranho, ao ouvi-lo falar sobre administração pública comigo. Como filósofo, um de seus temas de estudo é o desânimo que se abate sobre a carreira docente, de uma quase falta de fé na educação. Mas isso era coisa que ele não conversava comigo. Além do mais acho que faz mais de um ano que não o via. Descubro agora por e-mail, aliás vários e-mails, que na noite de ontem para hoje durante as aulas da noite ele passou mal enquanto lecionava. Levado à Santa Casa veio a falecer de um infarto do miocárdio. No e-mail que recebi há uma foto dele, mas não o vejo! Vejo somente aquela pessoa indignada à porta dos sanitários do Bloco I. Espero não ter sofrido muito quando chegou o momento de cruzar a porta, quando terminou a interdição. Um dia chegará meu momento, desculpem-me por esta fala egoísta, dessas minhas últimas palavras de indignação. Isso é muito digno como despedida.