O MEQUI OS JUÍZ I OS PEXE.
Hoje a maré não está para peixe!
Nove e meia da manhã o Sol, já com uma cara de quem não está nem aí, queimava o meu braço preguiçosamente abandonado sobre janela do carro.
Lá ia eu, tranqüilo, pensando em dar uma chegada no HFAB para uma consulta de rotina e pedir ao cardiologista um atestado para poder fazer uns exercíciozinhos na academia. Preciso malhar para tirar uns centímetros da barriga e deixar essa vida sedentária de velho de apartamento.
O rádio, sintonizado na freqüência da Nacional-FM, tocava uma bela bossa, do meu amigo e parceiro Carlos Bivar. Dei sorte. Era uma das músicas do seu repertório que mais me agrada; “A Outra Face”. Música romântica, falando de um amor passado, com uma letra bem cuidada, figuras elaboradas e um linguajar que se dá ao luxo de incluir neologismos como “desquerer” e frases construídas como: “nada vai do não ao sim”, “toneladas de alegria em cada grama”, “quem briga consigo mesmo carece de comédia no seu drama”...
Já estava estranhando a fluidez do trânsito que, por essas horas, na BR-020 fica insuportável, principalmente, nas imediações do Posto da Polícia Rodoviária. Aliás, nunca entendi direito a razão dessa inexplicável ocorrência. Se à autoridade do trânsito incumbe garantir a fluidez e a segurança do tráfego, como entender que o posto em questão seja o principal complicador do fluxo naquele local, nas horas de pico? Parece haver algo errado e ninguém se interessa em estudar essa questão e resolvê-la de uma vez! Enquanto isso, policiais se mantém a postos observando quem está trafegando sem o emprego do “cinto de segurança”... Argh!
Mas, deixando para lá esse incômodo, ia ouvindo a minha musiquinha quando percebi, já na altura da Ponte do Braghetto, que a minha frente já se avolumavam os veículos quase parados.
Xinguei algumas imprecações interjetivas, daquelas comuns a qualquer filho de Deus, e pedi ajuda aos anjos da paciência para esperar o trânsito permitir minha passagem.
Quando já estava bem próximo da ponte, notei algumas mulheres que aproveitavam esse tipo de congestionamento, usual da rodovia, para vender amendoins torrados, água mineral, goiabas, caquis e outras frutas da época.
Foi quando, irritado e meio curioso, perguntei o que tinha acontecido lá na frente? A mulher, desembaraçada, respondeu que estavam tirando um sujeito que havia se enforcado, pulando lá de cima. Estava pendurado, com a corda no pescoço e com metade do corpo enfiado nas águas do Ribeirão do Torto. Em intenção ao suicida, desfiz-me da irritação e mentalizei uma breve oração em favor de sua alma.
Vinte minutos depois já estava passando pelo nó do engarrafamento e, em seguida, continuei meu caminho em direção ao Hospital.
À noite, em casa, durante o jantar, tive a atenção voltada para o jornalista que se esgoelava na tela da televisão: “Professor enforcou-se na Ponte do Braghetto!” Em sua mochila, os bombeiros encontraram o seguinte depoimento justificando o ato extremo”:
“Aos meus pais, meus amigos e meus alunos:
Como profeççor não poçço mais continuá purquê num sei mais cumé qui vô dá aula pros meus aluno. Cume qui vô fazê as pergunta da prova i tamém num sei como é qui vô fazê, dipôis, pra corrigi.
Si os aluno escreve dum jeito i eu penço qui é errado poçço tá inganadu e us aluno istá serto. Si eu penço que é certo i os aluno istá errado, eles tamém acaba istando serto. Intão, neçça confuzão, eu num sei di mais nada. Axo que a iscola inveis de insiná o certo pros aluno vai ter qui aprendê o errado cos aluno! Foi o livro do MEQUI qui mi dechô neçça baita confuzão.
Mais num e çó por içço que num quero mais vivê. É qui meu irmão aparesseu lá in casa apresentando o namorado. Minha irmã largô o marido i si mandô com a filha da vizinha; disse qui tava morreno di pachão i qui si num ficaççe com a mulé, ia tomá xumbinho. Si mandô pela rua a fora dizendo que os juiz lá de num sei onde qui dissero qui agora liberô jerau i qui ela i a namorada agora pudia dizê qui era um casal di sandalinha i sapatão.
Pra compretá, discubri qui meu tiu tamém tava saindo du armário. Tinha um rabicho por um guarda noturno qui tomava conta dos cuarterão du bairro. Saiu falano que ia operá o biláu, qui aquilu num prestava pra nada; só pra ocupa espaço...
Como levei tempão pra mi formá na facudade, agora tô perdido sem sabê como vô fazê pra disaprendê tudo o que aprendi i aprende di novo tudo içço que modificaro. Cum eçça merreca di salário qui mi pagão, cumé qui vô podê istudá tudo di novo?
Acabei de iscutá o Arnaldo Jabô! Num guento u qui istão fazeno cum noçça língua; tão matano ela! Prefiro morre junto! Vô lá pru outro lado! Lá num tem MEQUI i num tem juiz nem i nem deputado neçça fala di puliticamenti corretu! Mas tem muito pexe i pexe, a gente pega, mata i comi! Benssa, pai, Bensa, mãe! Xáu! Tô fora! Tá ligado?
Aççinado: Profeççor Çissero.
Amelius (17-05-2011)