A prepotência como incompetência cognitiva
Muito nos incomoda essa tal postura de líderes, autoridades e até amigos.
Mas a prepotência está em todos os lugares, habitando até muitas das vezes, em nós também. Mas como funciona este ser? Com que base ele se enxerga acima de alguém?
A partir de uma conversa, via Whatsapp com um colega do Rio de Janeiro, este mesmo me disse que o prepotente não consegue convencer os outros do que ele pensa. Bom, nasce um insight.
A nossa incapacidade de argumentação sempre nos levará a atos de prepotência, seja física, intelectual ou psicológica. O prepotente é alguém que, em seu desejo e em sua posição de autoridade, seja como pai, mãe, patrão, padre, pastor ou amigo (Vale lembrar, que para ser um prepotente, não é preciso ser uma autoridade legítima. Basta se achar superior ao outro.) é incapaz de entender o que sente e incapaz de expressar claramente o que pensa e porque pensa o que pensa e deseja. Isso porque o prepotente não faz autocrítica, nem autoanálise de sua conduta e nem quer medir suas consequências em convívio com os outros. Usando a lógica do capitalismo, o prepotente acredita sempre que aquele que questiona, não se enquadra no perfil que ele deseja. O prepotente é acima de tudo, narcisista. O seu desejo o comanda, imperativamente, assim como ele quer comandar os outros. Sem autoanálise e autocrítica, o prepotente acredita que em sua posição de orgulho com relação a superioridade que ele acredita ser, exclui aquele que o questiona, que o afronta em seu desejo autoritário.
O prepotente odeia ser questionado e afrontado em seu delírio de superioridade. É sempre um golpe em seu ego frágil. Por não saber o que pensa com relação ao que sente, por não entender que emoções estão sempre ligadas também as nossas práticas racionais, o prepotente se sente afrontado, acuado em sua posição narcísica. Vale lembrar que é muito perigosa essa relação de ego entre as pessoas, principalmente quando o prepotente é o seu pseudo-líder no trabalho.
O prepotente quer, somente quer porque quer. Não raciona senão com a lógica do sistema de pensamentos em que ele se identificou e aderiu (então compactua), seja a lógica do capital, seja a lógica da superioridade versus inferioridade tão arraigada em nossa cultura, vide as nossas relações com os negros, mulheres, crianças, gays, índios, travestis, pobres, deficientes e etc.
Nessa lógica de poder, o prepotente não se ocupa de pensar democraticamente. O outro é um perigo para ele, porque pode desmascará-lo em sua performance estética-política. O prepotente adora sua imagem, idolatra-a. É o que todo narcisista faz. Quem não se submete a sua imagem e arrogância, está com os seus dias contados. Assim, nossas relações nada tende a converger, as divergências podem ficar nos bastidores. Enquanto acreditarmos que somos demasiadamente racionais, cairemos sempre no mesmo degrau: o auto-engano.
O prepotente não gosta de diálogo, o que lhe salvaria deste estado primário de amor próprio. Então entra a lógica do convívio social com sua etiqueta imperadora: a falsidade.
E de imagem e imagem, vamos sobrevivendo ou nos arrastando até a beirada dos nossos precipícios.
Na beirada, uma escolha: se render pra sempre ou subverter os jogos de linguagem do poder.