NA MARCA DA CAL
Estrategicamente falando, nenhum de nós é prudente e controlado o suficiente para não cometer uma penalidade máxima durante as partidas que disputamos nos torneios e campeonatos de nossa vida. Aqui, ali e acolá, somos apanhados de surpresa fazendo jogadas desleais nos diversos gramados que abrigam os jogos dos campeonatos que são programados no decorrer da nossa existência.
Ora agimos como aquele zagueiro perna-de-pau que, sem uma técnica mais apurada, atropela todo e qualquer atacante que porventura venha surgir à sua frente, ou ora agimos como um bom líbero que fica de espreita, esperando ajudar aquele zagueiro, que mesmo não sendo um perna-de-pau, se vê enganado por um bom e veloz centro-avante, desses que até um bom lateral argentino tem receio de encará-lo.
Todos nós temos medo de encarar a marca da cal. Sejamos na condição de um bom goleiro, desses que “adivinham” o canto que o “batedor” escolheu para guardar a “gorduchinha”, ou na pele daquele goleiro que todo mundo faz questão de chamá-lo de “frangueiro”. Num e noutro momento, a parada é mesmo muito indigesta. Ninguém é capaz de adivinhar o desfecho desse episódio.
Nenhum de nós gosta de ser colocado à prova, principalmente quando a torcida está ali nas arquibancadas ou nas gerais, esperando o momento certo para aplaudir ou criticar. Mas a marca da cal existe. Ela está ali demarcada para ser utilizada no momento em que o arbitro assim o determinar. Para muitos, este exerce o papel de um juiz que prolata uma sentença, tamanha é a sua inflexibilidade. Ele é, por vezes, cruel e mesmo ele estando errado, permanece no erro.
Como você pode ver, eu não me referi à imparcialidade dele, esse é um assunto do passado. Até porque nesses momentos de instauração de comissões as mais variadas, que vão desde as “parlamentares de inquérito”, às “éticas”, o cumprimento irrestrito dos fundamentos legais e filosóficos dessa tal “ética”, está cada vez mais comprometido e por que não dizer, fora de jogo.
De um modo geral, olhar a marca da cal é terrível. Ela é ameaçadora para ambos os contendores. Tanto para aquele que irá chutar a bola na direção da meta, quanto para aquele que terá a “obrigação” de defendê-la. Nesses momentos o que menos conta é a força e/ou a sisudez dos responsáveis pela cobrança da tal “penalidade máxima”. É preciso muita calma nessa hora...
Na vida real é desse jeito. Às vezes somos confundidos e tratados com uma bola. E uma vez cometida a nossa primeira falta ela é, automaticamente, convertida em penalidade máxima. O árbitro, sem mais nem menos, nos coloca na marca da cal e determina que o jogador responsável pela cobrança da falta nos meta a chuteira, sem dó nem piedade, e o mais tragicômico de tudo isso é que nessa situação, na maioria das vezes, nós estamos sozinhos. Não temos nem a torcida, ali, gritando, nos xingando e/ou nos aplaudindo. Esses momentos são vistos para quem determina a cobrança da falta como um jogo preparatório, um jogo-treino.
Excetuando-se as seqüelas deixadas pelo bico da chuteira em decorrência da violência do chute do cobrador da falta, ser confundido com uma bola colocada na marca da cal não é de todo ruim. Tem o seu lado positivo. Imaginemos que o formato da bola é geralmente redondo. Ela não tem a obrigação de ficar de pé, por vezes, perfilada, ou numa posição predeterminada por alguém meio metódico ou intransigente. Não importa o jeito como ela é colocada, há sempre uma forma natural de acomodação que parece aos olhos de outrem como posta do seu jeito.
O ideal seria que todo o ser humano, até para os mais complicados e complexos seres dessa espécie, tivesse o formato de uma bola, andasse de pé em pé em toda a extensão do gramado e que de vez em quando ele se visse sendo colocado por um árbitro na marca da cal.
Outrossim, seria bom que em momentos como esse, ele tivesse como testemunha da realização desse ato todo o apoio de sua torcida ou o apupo da torcida contrária. Decerto, ali, ele veria, forçosamente, dois seres da sua espécie com interesses antagônicos. Um deles, interessado em chutar a bola na direção do gol e, antes de desferir o seu golpe certeiro, ele a apanharia nas mãos e de forma carinhosa dar-lhe-ia um beijo. Mais tarde, depois de ver realizado o seu intento, ele a deixaria de lado e trataria de correr para o abraço de sua torcida.
Quanto ao outro, uma vez vencido pelo seu oponente, a acolheria em suas mãos, dar-lhe-ia um tremendo pontapé na direção do centro do gramado, geralmente usando isso como uma forma de desabafar e/ou de se desculpar perante a tristeza e/ou xingamentos de sua torcida. Por fim, esmurraria o solo do gramado, o único que lhe servia de apoio naquele momento, como se aquela sua atitude fosse mudar o quadro caótico de sua ineficácia, ou ali, como forma de esperança ou de redenção, ele esperaria o desenrolar da partida e, quem sabe, numa jogada fortuita o seu time viraria o jogo.
Na vida real também é assim. Estamos sempre aguardando a virada do jogo. Às vezes essa virada ocorre no decorrer do tempo normal ou nos minutos que são acrescidos ao tempo final do primeiro tempo, e não no final da partida. Numa e noutra situação, achamos que somos o máximo em termos de redenção ou recuperação do nosso poder de fogo.
Na verdade, nessa hora nós deixamos de nos policiar, de nos preparar de forma eficaz e vivemos durante algum tempo seguindo à risca a pseudo recomendação imposta por um famoso e velho ditado popular: “cria fama e deita-te na cama”. Esquecemos, destarte, que a marca da cal existe, que ainda teremos mais um tempo de jogo e que durante esse período estaremos sujeito a cometer outras penalidades máximas...
Estrategicamente falando, nenhum de nós é prudente e controlado o suficiente para não cometer uma penalidade máxima durante as partidas que disputamos nos torneios e campeonatos de nossa vida. Aqui, ali e acolá, somos apanhados de surpresa fazendo jogadas desleais nos diversos gramados que abrigam os jogos dos campeonatos que são programados no decorrer da nossa existência.
Ora agimos como aquele zagueiro perna-de-pau que, sem uma técnica mais apurada, atropela todo e qualquer atacante que porventura venha surgir à sua frente, ou ora agimos como um bom líbero que fica de espreita, esperando ajudar aquele zagueiro, que mesmo não sendo um perna-de-pau, se vê enganado por um bom e veloz centro-avante, desses que até um bom lateral argentino tem receio de encará-lo.
Todos nós temos medo de encarar a marca da cal. Sejamos na condição de um bom goleiro, desses que “adivinham” o canto que o “batedor” escolheu para guardar a “gorduchinha”, ou na pele daquele goleiro que todo mundo faz questão de chamá-lo de “frangueiro”. Num e noutro momento, a parada é mesmo muito indigesta. Ninguém é capaz de adivinhar o desfecho desse episódio.
Nenhum de nós gosta de ser colocado à prova, principalmente quando a torcida está ali nas arquibancadas ou nas gerais, esperando o momento certo para aplaudir ou criticar. Mas a marca da cal existe. Ela está ali demarcada para ser utilizada no momento em que o arbitro assim o determinar. Para muitos, este exerce o papel de um juiz que prolata uma sentença, tamanha é a sua inflexibilidade. Ele é, por vezes, cruel e mesmo ele estando errado, permanece no erro.
Como você pode ver, eu não me referi à imparcialidade dele, esse é um assunto do passado. Até porque nesses momentos de instauração de comissões as mais variadas, que vão desde as “parlamentares de inquérito”, às “éticas”, o cumprimento irrestrito dos fundamentos legais e filosóficos dessa tal “ética”, está cada vez mais comprometido e por que não dizer, fora de jogo.
De um modo geral, olhar a marca da cal é terrível. Ela é ameaçadora para ambos os contendores. Tanto para aquele que irá chutar a bola na direção da meta, quanto para aquele que terá a “obrigação” de defendê-la. Nesses momentos o que menos conta é a força e/ou a sisudez dos responsáveis pela cobrança da tal “penalidade máxima”. É preciso muita calma nessa hora...
Na vida real é desse jeito. Às vezes somos confundidos e tratados com uma bola. E uma vez cometida a nossa primeira falta ela é, automaticamente, convertida em penalidade máxima. O árbitro, sem mais nem menos, nos coloca na marca da cal e determina que o jogador responsável pela cobrança da falta nos meta a chuteira, sem dó nem piedade, e o mais tragicômico de tudo isso é que nessa situação, na maioria das vezes, nós estamos sozinhos. Não temos nem a torcida, ali, gritando, nos xingando e/ou nos aplaudindo. Esses momentos são vistos para quem determina a cobrança da falta como um jogo preparatório, um jogo-treino.
Excetuando-se as seqüelas deixadas pelo bico da chuteira em decorrência da violência do chute do cobrador da falta, ser confundido com uma bola colocada na marca da cal não é de todo ruim. Tem o seu lado positivo. Imaginemos que o formato da bola é geralmente redondo. Ela não tem a obrigação de ficar de pé, por vezes, perfilada, ou numa posição predeterminada por alguém meio metódico ou intransigente. Não importa o jeito como ela é colocada, há sempre uma forma natural de acomodação que parece aos olhos de outrem como posta do seu jeito.
O ideal seria que todo o ser humano, até para os mais complicados e complexos seres dessa espécie, tivesse o formato de uma bola, andasse de pé em pé em toda a extensão do gramado e que de vez em quando ele se visse sendo colocado por um árbitro na marca da cal.
Outrossim, seria bom que em momentos como esse, ele tivesse como testemunha da realização desse ato todo o apoio de sua torcida ou o apupo da torcida contrária. Decerto, ali, ele veria, forçosamente, dois seres da sua espécie com interesses antagônicos. Um deles, interessado em chutar a bola na direção do gol e, antes de desferir o seu golpe certeiro, ele a apanharia nas mãos e de forma carinhosa dar-lhe-ia um beijo. Mais tarde, depois de ver realizado o seu intento, ele a deixaria de lado e trataria de correr para o abraço de sua torcida.
Quanto ao outro, uma vez vencido pelo seu oponente, a acolheria em suas mãos, dar-lhe-ia um tremendo pontapé na direção do centro do gramado, geralmente usando isso como uma forma de desabafar e/ou de se desculpar perante a tristeza e/ou xingamentos de sua torcida. Por fim, esmurraria o solo do gramado, o único que lhe servia de apoio naquele momento, como se aquela sua atitude fosse mudar o quadro caótico de sua ineficácia, ou ali, como forma de esperança ou de redenção, ele esperaria o desenrolar da partida e, quem sabe, numa jogada fortuita o seu time viraria o jogo.
Na vida real também é assim. Estamos sempre aguardando a virada do jogo. Às vezes essa virada ocorre no decorrer do tempo normal ou nos minutos que são acrescidos ao tempo final do primeiro tempo, e não no final da partida. Numa e noutra situação, achamos que somos o máximo em termos de redenção ou recuperação do nosso poder de fogo.
Na verdade, nessa hora nós deixamos de nos policiar, de nos preparar de forma eficaz e vivemos durante algum tempo seguindo à risca a pseudo recomendação imposta por um famoso e velho ditado popular: “cria fama e deita-te na cama”. Esquecemos, destarte, que a marca da cal existe, que ainda teremos mais um tempo de jogo e que durante esse período estaremos sujeito a cometer outras penalidades máximas...