REFUGIADOS RENEGADOS
A cada dia que penso em colocar algo no papel, percebo que se adiar o momento o bonde sai da estação e eu fico a espera do próximo que não sei a hora que vem. A notícia que me tirou o sono foi quando vi estampada na capa de uma revista a foto de um pequenino emborcado, à beira de uma praia como se tivesse adormecido de pura exaustão.
Mas, o menino não dormia. O menino não estava naquela praia com seus pais ou parentela aproveitando um momento de lazer, quem sabe já tivesse construído castelos de areia ou esperasse a hora da partida pra casa, onde após um banho demorado, uma alimentação quentinha deitado na cama pra ouviria mais uma estória contada por mamãe ou papai. Ah, poderia também, ouvir uma canção de ninar, pedindo com olhos sonolentos: _ Cante de novo!
O menino não dormia. A busca por dias tranquilos para si e para a família tem levado muitos a arriscarem tudo que tem à procura de um lugarzinho nesse grande planeta para somente viver sossegado, ganhar o pão de cada dia e ver os filhos crescendo; longe das guerras, longe das mazelas de uma sociedade que geme a procura de paz.
Enquanto isso, muitos países vão fechando suas fronteiras temendo a invasão em massa de supostas pessoas que ‘tomarão os empregos dos seus fiéis cidadãos, enchendo seus bairros limpos e valorizados, trazendo quem sabe, pessoas de índoles suspeitas para o território sagrado’. Eles não sabem que quem está fugindo foge porque não tem como ficar. Eles não sabem que se fosse com eles o modo de pensar atual lhes causariam perplexidade. Eles não sabem que hoje estão em paz, guardados e abastecidos, mas o amanhã pode ser diferente.
O dever de cada país é acolher quem procura ajuda, principalmente em casos como apresentados acima. Todos os países que não estão vivendo tal situação deveria repensar suas decisões, e sem perder tempo com blá, blá decidir por acolher quantas pessoas forem necessárias visando poupar-lhes a vida, dar-lhes uma condição mínima. Para evitar conflitos internos, realizar campanhas educativas para que a população compartilhe do que tem, porque não podemos negar que existem pessoas negativas, egoístas e vis; mas na sua maioria, o ser humano é bom.
Não me conformo com o que vejo. Não aceito o rumo que toma a humanidade. Quando negamos ajuda ao próximo estamos determinando, contribuindo com o fim da nossa existência. Deus tenha misericórdia de nós. Mas, Ele só terá a partir do momento que eu tiver misericórdia de quem procura ajuda e eu lhe corresponder com as mãos estendidas. Infelizmente, para meu horror e tristeza, não é isto que vemos.
O mundo está tropeçando. O mundo caminha de mal a pior. Precisamos conhecer o verdadeiro sentido da palavra “AMAR”. Porque de cenas de amor às telinhas, as telonas, os livros estão cheios. Encenação de amor ver-se no ambiente de trabalho, no encontro social, no relacionamento desgastado pela falta de respeito e diálogo, onde há falta de renúncia e o ego fala mais alto. Puro teatro. E de tudo isto, meu ser clama por um: BASTA.
O ser humano passou a ser o centro de tudo. Eu, Eu, e Eu. Se não usarmos a marcha ré, e voltarmos a nossas origens onde o Eu com meu próximo somos um, o quando ele sofre eu sofro também, o meu bem estar o faz feliz, seja ele, branco, preto ou amarelo, seja ele de qualquer posição social, seja ele de qualquer religião ou até não tenha minha fé, negue o Deus no qual creio; continua sendo meu próximo e eu não vou encontrar justificativa para minha omissão, porque aprendi que, aquele que sabe fazer o bem e não faz, peca.
Ione Sak 19/05/16