O respeito que possuo pela dúvida (Dilma Rousseff x Michel Temer)
Inicio por dizer que após pensar sobre toda essa confusão que cerca o afastamento da então presidente Dilma, operação lava-jato e novos acontecimentos sobre o governo Temer, não sei muita coisa. Não sei o suficiente para dizer se o afastamento é a única opção. Não sei se poderia ser tomada outra medida. Não sei o que se passa nos bastidores da lava-jato e do Congresso. Não sei o quanto as investigações são direcionadas ou não. Não sei se defendo o afastamento da Dilma por também poder representar algo mais grave que o mero afastamento do PT do poder (e isso eu sei que eu quero, só não sei se dessa forma). Eu sei, e sei mesmo, que não votei e não voto no PT. Acho impuro essa aproximação com governos ditatoriais latinos. Sei bem que a Dilma usava verde ou amarelo para falar à nação e vermelho em suas viagens internacionais (maioria das vezes). Sei que pedaladas fiscais só são a roupagem jurídica para decidir algo que é político. Mas não sei se por si só isso está errado. Me reservo ao direito de não saber o que realmente não sei. Me reservo ao direito de respeitar o não saber, ainda que temporariamente.
Esse texto não é sobre política, e assim me permito mudar de foco. É sobre poder duvidar das minhas certezas. O fácil é se posicionar. O fácil é responder estou do lado deste ou daquele e começar a defender um lado e culpar o outro. O difícil é relativizar as coisas, concordar discordando e discordar concordando.
O ser humano parece não suportar a dúvida. O ego pede que se posicione sobre tudo. Não só o ego, mas o não saber lidar com a falta. A falta inclusive de uma resposta mais elaborada, que não venha com um simples sim ou não. Onde coloco minha falta se não a respeito? Se finjo que ela não existe? Talvez por isso os ânimos se exaltem tanto nas falas pró Dilma e pró Temer. Como ouvir de alguém aquilo que aflora como ignorância também em mim? O outro me denuncia na sua paixão de tal forma que meu argumento será também exposto de forma apaixonada. Um erro. Porém um erro excitante. O embate é excitante, por excelência.
Aprendi a colocar questionamentos em cima de minhas verdades. Não sou todo razão, como antigamente. Agora tenho tempo para mim. Para minhas dúvidas. Para respeitar aquilo que não sei. Para não expor minha opinião sem de fato saber qual é e, principalmente, sei agora distinguir quando posso não estar certo. Posso ser agora meu maior questionador e isso é vantagem, sim.
Não por outro motivo o ser humano criou mitos e para muitos até religiões (para Nietsche, por exemplo). Explico. Hoje sei que o fato de não saber gera a angústia necessária para se inventar qualquer coisa. Ficar na dúvida (permanecer nela) parece não ser uma opção viável para um querer saber insaciável e por vezes burro, já que o que se preenche com a pressa não é o saber, mas a fantasia de que se sabe.
Minha maior virtude, hoje em dia, é o respeito que possuo pela dúvida. Respeitar o que ainda não sei pode ser minha principal arma contra o saber doente e sintomático. Hoje posso responder sem me constranger que não tenho uma opinião formada definitiva sobre esse ou aquele assunto.
No mundo das redes sociais o benefício que dou a minha dúvida é cada vez mais raro. Conviver com certas dúvidas para mim é importante. Não posso apressar o caminhar das minhas razões. Me respeitar é também saber respeitar e distinguir aquilo que sei daquilo que não sei. Não me furto a dizer que talvez não queira saber sobre determinado tema. Posso me aprofundar em outros temas que possuo interesse. A grande jogada é não tratar aquilo que não conheço profundamente como sendo meu íntimo. Meu saber é limitado e meu desejo pode estar em um tema e não no outro.
Corro o risco de não me aprofundar tanto na política. O saber requer suor. Suor que posso não estar disposto a gastar nesse tema. Ou não. Talvez eu comece a gostar. Dúvida. Vou ficar com ela.
19/05/2016,
Leandro Gonzaga