Na trilha de minha aprendizagem

Quando passei no vestibular em 1978, eu tinha 18 anos e morava numa vila no subúrbio de Fortaleza, no bairro Antônio Bezerra.

Na minha casa não tinha água encanada e, nem muito menos telefone, pois, na época, as linhas eram compradas e muito caras.

Ao saber que o resultado do meu vestibular havia saído, fui até a sede de um cursinho, de nome SKEMA, na av. Duque de Caxias, para saber se havia passado. Passei o dedo na relação dos aprovados para Engenharia Mecânica, partindo do primeiro nome, naquela sequência por classificação e, quando cheguei no 33º, lá estava meu nome por completo.

Esse foi o primeiro concurso formal que participei. Na época, as evidências levavam essa vitória para o nível do impossível, pois, eu vinha da escola pública e, só saí dela, nos dois últimos anos do ensino médio porque recebi o apoio de meus tios, Amélia e Jorgelito, tendo em vista que meu pai havia falecido, repentinamente, em dezembro de 1976 e, que o quadro financeiro em que nos encontrávamos não era nada promissor.

Só para constar, neste concurso de 50 vagas, haviam apenas 2 alunos da escola pública, eu e outro.

Naquele momento a alegria do feito invadiu meu interior, mas, a frieza do meu jeito de ser, não permitiu sua festa. Saí do local como se nada tivesse acontecido. Entrei na igreja do Carmo, bem em frente ao banco do Brasil, na avenida Duque de Caxias com a rua Barão do rio Branco, sentei num de seus bancos próximo a entrada e, pensei um pouco sobre minha vida. Naquele momento eram coisas soltas, a maioria desconexas. Na realidade eu estava comemorando a minha felicidade, mas, não sabia como fazer isso.

Depois fui para casa e, logo que cheguei minha mãe perguntou qual foi o resultado, eu respondi que havia passado. Com um leve sorriso, sem a emoção que nós merecíamos. Ela fez um pouco de festa, mas, não deu para ir muito longe, pois não dei o valor devido ao momento...

ERA AQUI, ONDE EU QUERIA CHEGAR!!!

Taquipariu! Eu era um menino pobre, que morava numa vila, com outra na perpendicular, onde só se tinha notícias que até então, uns 5 jovens como eu, haviam passado no vestibular. Eu vinha da escola pública, onde estudei praticamente a vida escolar inteira, meu pai havia falecido há dois anos exatos. Tive uma excelente classificação em um curso concorridíssimo que era a Engenharia Mecânica, em um dos mais disputados e difíceis vestibulares do Brasil e, não fiz festa alguma...VÁ PRÁ MERDA COM TANTA FRIEZA!

Deixei este momento registrado na minha mente, como um sinal de alerta e, fiz dele meu guia, pois eu sabia que tinha algo de errado precisando ser melhorado.

No passar dos anos comecei a questionar a felicidade, a infelicidade, meus medos, minhas decepções, minhas certezas, meus ícones, meus mestres e meus objetivos.

Foi quando percebi que eu era gente como qualquer outra pessoa e, que éramos todos iguais com relação aos problemas, mudando apenas, as vezes, seus tipos e intensidades.

Passei a me combater e, devo informar, que esta luta é permanente e, pelo jeito, perpétua, pois, na verdade, é ela que é utilizada para forjar a personalidade que adquirimos a cada tempo.

Hoje tenho fama de aglutinador, sou chamado para aproximar, não escondo o que sinto, procuro me misturar com o mundo que cresce e sou confundido naturalmente com esta gente. Puxa, como sou feliz por isso! Devo a mim e a todos os que me cercam estes méritos.

Depois de muita luta vejo o mundo com bons olhos, mas, me surpreendo negativamente, quando me deparo com pessoas que se dizem amantes do amor e dos preceitos religiosos, tendo Jesus como base e, no entanto, são os maiores disseminadores do ódio, das guerras entre grupos, da proteção dos seus protegidos, em detrimento a qualquer outro grupo de seres humanos, muitas vezes sem nenhuma condições de sobreviver, senão, pelas mãos de outros iguais. Mas, só porque estão longes dos olhos, são afastados dos corações.

Na verdade, em termos de ser humano, ando muito longe de atingir os escalões adequados, por desqualificação e desconhecimento, nada que o tempo não ajude a construir, no entanto, fico muito feliz por ter colocado isso como meus objetivos de vida. É sinal que estou vivo e, com vontade de mais vida.

Não devemos ter receio de externar nossas emoções, principalmente se elas forem boas e oriundas de vitórias reais, ou seja, daquelas que para existir, não precisaram derramar sangues alheios, muitas vezes, até de pessoas inocentes.

A VIDA TEM LIBERDADE POÉTICA PARA AGIR. Nós é que devemos aprender a lidar com seu jeitinho, muitas vezes não tão delicado.

jrogeriobr
Enviado por jrogeriobr em 18/05/2016
Reeditado em 03/02/2022
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