JOGOS DE BASQUETE NO TUMIARÚ: O GUARDA CHUVA DO BUBINHO
JOGOS DE BASQUETE NO TUMIARÚ: O GUARDA CHUVA DO BUBINHO
O Clube de Regatas Tumiarú em São Vicente nas décadas de 1950-60, possuia duas quadras de basquete em sua séde social, no centro de São Vicente, Sã Paulo. Principal clube da cidade, já naquela época tinha grande tradição no esporte amador. As quadras eram descobertas, pois não havia ginásio esportivo. A quadra mais nova era onde aconteciam os jogos de basquete e futebol de salão, volei era mais raro. A participação do Tumiarú nos campeonatos da região era sempre destacada, suas equipes contavam com bons times e as rivalidades eram acentuadas entre as principais agremiações. O Santos Futebol Clube, o Vasco da Gama de Santos, o Atlético Santista, o Clube Internacional de Regatas, O Saldanha da Gama, o Brasil futebol Clube, o Vila Souza Atlético Clube do Guarujá e, lógico, o Tumiarú, eram os destaques das competições. As pessoas sentavam em arquibancadas de táboas de madeira e torciam muito. Eram diversas categorias: infantil, juvenil, aspirante, principal, e havia equipes femininas e masculinas de basquete. No futebol de salão só as equipes masculinas disputavam, futebol ainda era coisa só para homens. Era uma geração imediatamente após o grande Wlamir Marques, que iniciou sua carreira no Tumiarú e transferiu-se para o XV de Piracicaba, na época o melhor time de basquete brasileiro, em 1953. Dizem que se não houvesse jogado basquete, Wlamir seria um goleiro excepcional. Outro grande astro seguiu seus passos em 1955: Pedro Vicente Fonseca, o Pecente. Pecente jogava basquete e futebol. Havia começado com outros dois vicentinos que se tornaram famosos, Pepe e Del Vechio. Pecente era um excelente ponta esquerda e Del Vechio era um bom jogador de basquete. Pepe e Del Vechio optaram pelo futebol. Pecente escolheu o basquete como o seu esporte. Os três jogaram no Santos, mas Pecente após uma excursão à Argentina, resolveu seguir no bola ao cesto. Portanto, São Vicente ainda vivia sob o clima do aparecimento dessas glórias esportivas. E surgiram outros grandes jogadores: Serjão, Jubal, os irmãos Cury (Nassir, Jarir, Omar e Altamir, o Bura), Lecomono são os que mais me recordo, mas tenho certeza que estou sendo omisso com excelentes atletas. Tinha muita gente boa. Do futebol de salão me lembro do Nando, que tinha um chute potentíssimo, e do Dinho, que tive o prazer de reencontrar em 2002. Passei longas horas com ele, em diversas ocasiões, recordando essa época da qual falo acima com muita alegria e cerveja. Demos muitas risadas juntos das passagens que ele recordava com muito humor. Dinho tinha menos de 1.60m, mas chutava a parte de baixo da tabela com saltos de uma impulsão rara. Há uns meses atrás soube que nos deixou para bater uma bola no céu. Nas minhas recordações essa foi uma época mágica. Vira e mexe o tempo fechava e ocorriam brigas homéricas, Por exemplo, jogar na quadra do Brasil era promessa de surra se a gente ganhasse o jogo. Seu Beto era nosso técnico, bravo demais. Quando o jogo era no campo adversário, ia aquele bando de garotos pegarem um ônibus para Santos.
Quando o jogo era no Tumiarú, procurava-se saber se havia previsão de chuva. O Bubinho, amigo nosso, atleta do clube, levou um guarda chuva para, caso chovesse, ele estava protegido. O jogo era à noite e o tempo estava muito bom, com uma bela lua e sem uma nuvem no céu. Começou uma gozação enorme com o Bubinho. Um dos gozadores cuspiu várias vezes no guarda chuva. Bubinho olhava fixo para o jogo não dando mostra de se importar com seu equipamento todo cuspido. Saída do jogo, nas escadas, Bubinho aproximou-se do cuspidor, saindo ao seu lado. Alcançada a calçada externa, Bubinho chamou o cara e simplesmente desferiu inúmeras guardachuvadas no sujeito, até ficar somente com o cabo e o varão do guarda chuva na mão. Formou-se uma confusão, logo acalmada pela sempre presente turma do deixa disso. Bubinho virou as costas e foi embora.
Paulo Miorim
17/05/2016