HISTÓRIA DE VIDA

Como a maioria dos que vivem hoje na cidade, nasceu ou teve alguma passagem no meio rural, eu também nasci num sítio, uma antiga fazenda de meu avô materno CAETANO TOLEDO RODOVALHO, que depois de sua morte foi dividida entre os filhos, inclusive minha mãe Antonia e meu pai José Jorge. Minha mãe fazia parte de uma família de muitos irmãos, entre eles JOSÉ, casado com Francisca; JOAQUIM, casado com Luzia; BENTO, apelidado de “Tico”, casado com Antonia; BENEDITO, apelidado de “Nenê”, casado com Antonia; ROSA, casada com Lázaro; AMÉLIA, casada com Bento; REGINA, casada com Silvério; e DAVINA, casada com Sebastião; cada família com seu quinhão de terra formava uma pequena “vila”, com casas relativamente próximas uma das outras e todos viviam em perfeita harmonia, entre irmãos, cunhados e primos.

Com atividades diversas de plantio de arroz, feijão, milho, café, algodão, laranja, criação de porcos, de bovinos, de cavalos de arado e de sela.

Cada família, quando matava um porco ou um novilho, depois de destrinchado dividia com cada irmão, ou irmã, casa por casa. Era realmente uma comunidade fraterna, que queria ver a felicidade e o bem estar dos vizinhos e parentes.

Era uma vida simples como em todas as propriedades rurais da época de muitos anos atrás e as poucas diversões e lazeres eram a caça, a pesca, jogo de cartas, festas na capela, etc. E para os meninos, o jogo de futebol com bola de meia, pião e caça com estilingue e bodoque, que é uma espécie de arco, com malha ou atiradeira, para atirar pedra nos pequenos pássaros, que na nossa meninice era muito divertido. Andava com um grupo de primos de minha idade, como Manoel, Ditinho, Joãozinho e Misael, para caçar e jogar futebol com bola de meia.

Vivíamos de pés descalços, pisando em espinhos e estrepes, ferimento curando sozinho, mente livre, correndo pelos campos, nadando em lagoas e ribeirões, como filhos do sertão...

Não havia a facilidade de hoje, o fogão era de lenha, geladeira era muito rara e cara, privilégio de poucos, e para conservar a carne, em forma de linguiça ela devia ser bem salgada e pendurada num varal, dentro da cozinha, para a secagem, era como a linguiça defumada de hoje.

Havia telefone, bem longe das propriedades. O rádio chegou primeiro, quando eu não morava mais lá. Meus pais venderam o sítio e mudamos para outra localidade. Meus tios, um a um, foi vendendo e deixando a propriedade e se mudando para a cidade, para conhecer novas realidades e diversidades de vida.

A televisão só chegou ao Brasil em 1950, cara e para poucos.

Do convívio e das brincadeiras de outrora, que era só alegria e fantasia, só ficaram a saudade, que machuca e que maltrata e a lembrança, dos longínquos tempos de criança...

E, para parodiar a música de Daniel, morávamos num recanto feliz e vivíamos num reino encantado.

Miguel Toledo
Enviado por Miguel Toledo em 17/05/2016
Reeditado em 19/05/2016
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