MORRENDO DE AMOR
Seguidamente ouvimos a expressão, morrendo disto, morrendo daquilo, as mais comuns são morrendo de fome e morrendo de sede. Talvez alguém diga que está morrendo de amor, morrendo pelo amor, tudo figurado, não passando de um estado temporário. Com Nelton foi diferente.
Nelton era corretor de imóveis, um corretor tipo safra, vendia um ou dois imóveis e depois passava um longo período sem sucesso. Aproximando-se dos 50 anos ele precisava de outra atividade que lhe desse mais segurança financeira. Aconselhado por um amigo ele começou a envolver-se com política, como se fosse um cabo eleitoral. Não demorou para destacar-se e ser recomendado a candidatar-se a vereador. Havia algumas condições para fazê-lo, principalmente porque no partido sabiam da legião de amigos que ele tinha e da capacidade de convencimento que ele possuía.
A principal condição foi que convencesse pelo menos 150 pessoas filiarem-se ao partido. Assim lá ia ele pelas ruas do bairro puxando uma conversa com um, com outro e expondo suas ideias para melhorias da região, mas precisava da ajuda através da filiação do interessado na conversa. Não demorou muito e conseguiu até mais dos 150 filiados necessários.
Veio a eleição e ele não conseguiu eleger-se, mas recebeu um bom número de votos, que lhe garantiu uma ocupação remunerada no diretório.
Como de costume ele passava perto das 9 horas dirigindo seu opala cor de puxa-puxa e acenava lentamente para a vizinhança.
Numa tarde fria de outono Jofre um dos vizinhos foi ao açougue, como fazia um dia sim e outro não. Do outro lado do balcão o açougueiro perguntou se levaria o de sempre, em resposta ao aceno de cabeça do cliente, passou a cortar os bifes de patinho. Enquanto pesava os bifes olhou pelo prolongamento da rua em frente, que ia até sumir próximo da serraria desativada e perguntou se Jofre sabia que movimentação de carros era aquela perto da casa do Barbosa.
- Não é na casa do Barbosa, mas na do Nelton, não sabe não? - Indagou Jofre e foi logo contando do ocorrido. Foi o Nelton que morreu, morreu feliz, morreu amando.
- Como está a Dona Bela? – Dona Bela era a esposa de Nelton.
- Ele não estava com ela. Morreu no motel!
Logo todos estavam sabendo do acontecido. Nelton havia saído do diretório para almoçar acompanhado da secretaria, depois de almoçar foram para um motel. A secretaria uma moça de uns 25 anos e ele já cinquentão provavelmente bateu as bielas e o pior é que estaria de barriga cheia.
Para Dona Bela disseram que ele havia sofrido um enfarto quando voltava do almoço. Se ela soube da verdade, deve ter preferido desacreditar, se ele morreu feliz não sabemos, mas sempre que algum dos rapazes fica sabendo de um cinquentão mais assanhado logo vão dizendo:
- Olha o que aconteceu com o Nelton!
Do livro: DEDOS EM TENTAÇÃO - 2016