Com quantas lembranças se faz uma saudade?

Não existe palavra mais polissêmica no dicionário do que a saudade.

Quando a gente se veste de saudade, não nos resta mais nada a não ser o abraço que as lembranças de momentos memoráveis dão na alma aflita.

As lembranças possuem raízes sentimentais puras: uma hora são tímidas; outrora, brutais; às vezes, apáticas. Nunca se esvaziam e são sempre atemporais.

Lembranças são só lembranças. Nostálgicas. Intemporais.

Só vêm à tona para exaurir a soledade dos homens, cujo consolo só existe quando as lágrimas dos anjos lavam o espírito inquieto dos que ainda são carne e osso.

A saudade é infinitamente polissêmica, tem suas múltiplas facetas.

Existe a saudade de um cheiro, de um sorriso, de um olhar. Existe a saudade de um amigo, de um amor perdido, de um ente-querido. E existe sempre a saudade do tempo que não volta atrás.

Saudade tem gosto de infância, de casa de vó, de colo de mãe.

Saudade tem gosto de família, de almoço aos domingos, de soltar pipa do telhado quebrado, de pé encardido na rua do vizinho.

E o sorvete da esquina? As bolinhas de gude jogadas na calçada, então? Apenas saudades.

A saudade é a marca que a vida estampou no tempo. O bálsamo da solitude humana.

E você?

Já se perguntou com quantas lembranças se faz a tua saudade?