Outra Dose, Por Favor
Viver é um viés de desdém. Tentamos desdenhar dos outros na tentativa frustrada de impedir que os nossos demônios desdenhem de nós.
O egoísmo é uma constante no caminho, moça. Deixamos coisas para trás e um dia, ao partir, acabamos partindo as pessoas.
Não há nada que escape à roda do tempo... Essa roleta-russa maluca que por vezes adora nos saudar com uma grande sequência de prêmios ruins. O tempo é veneno, mas é cura também. É tanta coisa que pode, inclusive, nunca chegar e tornar-se nada. O tempo é, sobretudo, incerto.
Caminha devagar, moça. Mentiram pra você. Não há porcaria de tijolo amarelo nenhum pela estrada da vida e o chão é de vidro, pisa com cuidado. Do contrário, vai acabar com os pés cortados como os meus, sangrando em companhia de um inverno infindável e uma garrafa repleta de doses de saudade para amargar.