O Capote de Vison
Sempre se viram nos tempos infantis aqueles dois casacos. Um no guarda-roupa da mãe e outro no, quarto ao lado, camiseiro que guardava relíquias da avó.
O camiseiro era aquele móvel pesado com porta estreita e gavetas e espelho de cristal para o avô fazer sua toalete. Sobre a bancada do mesmo repousava jarro, bacia e saboneteira de louças para a higiene matutina.
O camiseiro também servia de depositário de ternos, camisas, gravatas que foram do avô. Abria-se a porta e, na imaginação do menino, o avô, que não se conheceu, era aquelas roupas “naftalinideas”. Foi assim que ele se tornou reconhecido como patriarca – aquelas roupas velhas impunham a presença do chefe oligárquico mesmo estando morto. O seu fantasma era guardado naquele camiseiro. Ao lado dos ternos, a avó também ditava seu senhorio de dama antiga através daquele capote de pele.
Contava-se que na prosperidade dos negócios da antiga fazenda o casal fora passear na capital da recente república que o país se tornara. E a cidade litorânea continuava um dos principais portos por onde artigos de luxo do estrangeiro entravam. O velho fazendeiro fez graça comprando dois capotes de pele, um para a mulher e o outro para a filha. Comprou também outras extravagâncias como o relógio-piano por puro capricho.
Aquelas pilosidades em roupa eram demais para áreas tropicais, mas ele justificava “o chiquê” dos capotes dizendo que eram para suas queridas enfrentarem as “friagens” da serra.
Os casacos não só protegiam do frio nas quermesses do vilarejo como, bem cuidados e guardados como artigo de pompa, resistiram ao tempo. E o menino que nasceu no pós-morte dos patriarcas ficava maravilhado com aqueles pelos guardados no guarda-roupa da mãe e no móvel da avó. Curioso queria saber que bichos eram aqueles que foram sacrificados para a indústria da moda. As respostas obtidas eram sempre atravessadas e incompletas nos tantos “eu acho” que lhe diziam.
Passaram gerações. E não é que na novela televisiva, cujas histórias e personagens assemelham-se as de seus antepassados, apareceu um capote tal e igual que ele sempre vira nos armários de roupa da velha casa?! E aí ele ficou sabendo que aqueles casacos de sua mãe e avó eram de “VISON”.
Isto é que é chiquesa! Muito luxo para se vestir nas terras caipiras só para tomar benção dos padres e patriarcas que orquestravam a vida interiorana.
E digo mais em nome de minha avó: “O meu nome é Cunegundes!”
Sempre se viram nos tempos infantis aqueles dois casacos. Um no guarda-roupa da mãe e outro no, quarto ao lado, camiseiro que guardava relíquias da avó.
O camiseiro era aquele móvel pesado com porta estreita e gavetas e espelho de cristal para o avô fazer sua toalete. Sobre a bancada do mesmo repousava jarro, bacia e saboneteira de louças para a higiene matutina.
O camiseiro também servia de depositário de ternos, camisas, gravatas que foram do avô. Abria-se a porta e, na imaginação do menino, o avô, que não se conheceu, era aquelas roupas “naftalinideas”. Foi assim que ele se tornou reconhecido como patriarca – aquelas roupas velhas impunham a presença do chefe oligárquico mesmo estando morto. O seu fantasma era guardado naquele camiseiro. Ao lado dos ternos, a avó também ditava seu senhorio de dama antiga através daquele capote de pele.
Contava-se que na prosperidade dos negócios da antiga fazenda o casal fora passear na capital da recente república que o país se tornara. E a cidade litorânea continuava um dos principais portos por onde artigos de luxo do estrangeiro entravam. O velho fazendeiro fez graça comprando dois capotes de pele, um para a mulher e o outro para a filha. Comprou também outras extravagâncias como o relógio-piano por puro capricho.
Aquelas pilosidades em roupa eram demais para áreas tropicais, mas ele justificava “o chiquê” dos capotes dizendo que eram para suas queridas enfrentarem as “friagens” da serra.
Os casacos não só protegiam do frio nas quermesses do vilarejo como, bem cuidados e guardados como artigo de pompa, resistiram ao tempo. E o menino que nasceu no pós-morte dos patriarcas ficava maravilhado com aqueles pelos guardados no guarda-roupa da mãe e no móvel da avó. Curioso queria saber que bichos eram aqueles que foram sacrificados para a indústria da moda. As respostas obtidas eram sempre atravessadas e incompletas nos tantos “eu acho” que lhe diziam.
Passaram gerações. E não é que na novela televisiva, cujas histórias e personagens assemelham-se as de seus antepassados, apareceu um capote tal e igual que ele sempre vira nos armários de roupa da velha casa?! E aí ele ficou sabendo que aqueles casacos de sua mãe e avó eram de “VISON”.
Isto é que é chiquesa! Muito luxo para se vestir nas terras caipiras só para tomar benção dos padres e patriarcas que orquestravam a vida interiorana.
E digo mais em nome de minha avó: “O meu nome é Cunegundes!”
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 09/05/2016.
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