Pipoca de isopor
Hoje, senti duas sensações bem distintas quando voltei para casa. A primeira é que me senti como um mágico, pois levitei. E a segunda pensei que tivesse ganhado na mega sena. Foi tudo muito rápido. A porta do Messejana/Papicu abriu, eu era o primeiro da fila e, como num passe de mágica, me vi levitando. As pessoas me empurraram de uma forma que mal fiz esforço. Em seguida, sentei à janela. Mega Sena total.
Parecia que seria uma viajem habitual, se não fosse pela jovem senhora que sentou ao meu lado. Ela estava logo atrás de mim na fila e comia umas pipocas, daquelas de isopor. Só gosto das doces. Essas com sal não me apetecem.
Parecia educada. Me ofereceu a pipoca, que recusei educadamente. E a viajem seguiu.
Passamos pela parada de uma escola particular, da qual subiram alguns alunos. Alunos são todos iguais. Falam alto e geralmente estão suados no final da tarde. Passaram a roleta e se posicionaram no meio do ônibus. Logo na minha frente. E a viajem seguiu.
Quando estávamos na avenida Washington Soares, passando em frente ao Fórum, a jovem senhora saciada terminou sua nutritiva refeição e educadamente me pediu que jogasse o saco da pipoca pela janela. Logo, peguei o saco, que estava bem dobradinho, e fiz até menção de jogar, mas a mão seguiu o caminho do meu bolso e pus o saco nele.
A jovem senhora, que se mostrou contrariada no olhar, me perguntou:
- Moço, lhe pedi para jogar o saco pela janela.
- Sim, eu sei – respondi-lhe, e completei – mas o lugar do saco é no lixo. Quando chegar no terminal da Messejana, eu jogo no lixo.
No mesmo momento, os alunos que estavam próximos se manifestaram em uma sonora vaia aos gritos de “mal educada”. A jovem senhora não se conteve e me interpelou novamente:
- Mas o saco é meu.
- E a janela é minha.
Novamente, gritos dos alunos, “ainda vai?”.
A jovem senhora indignada me lançou um olhar daqueles que até a morte tem medo. Pensei, é agora que levo um tapa. Mas nada aconteceu. Ela ficou no seu lugar, com os braços cruzados e uma tromba do tamanho do mundo. E a viajem seguiu.
O ônibus foi passando por seu trajeto. As pessoas foram descendo, outras subindo, mas nós ali, eu, a jovem senhora trombuda e um saco de pipoca de isopor, um do lado do outro.
Enfim, chegamos ao terminal da Messejana. Levantei, ela também. Me deu passagem. Pensei, enquanto descia os degraus do ônibus: é agora que ela vai me dar uma voadora pelas costas. Mas, nada. Não olhei para trás, simplesmente segui até um lixeiro que estava próximo. Quando me pus de frente para o lixeiro, a dita figura, a jovem senhora, ameaçadora, estava na minha frente. Olhando para mim e esperando uma ação minha. Tirei lentamente o dito saco de pipoca de isopor do bolso e fiz menção de jogá-lo no lixo. Ela acompanhava tudo calada. Estava nervoso, não com medo, nervoso. Notei que o trocador estava com a cabeça para fora da janela do ônibus acompanhando tudo. Momento tenso. Foi quando joguei o saco no lixo e o esquisito aconteceu. A dita jovem senhora e sem escrúpulos, colocou a mão no lixo, tirou o saco e disse:
- Essa porra é minha e sou eu que jogo no lixo! E jogou novamente o dito saco no lixo.
O trocador gritou:
- Pega a doida!
E a decidida jovem senhora saiu batendo o pé e com um ar de certeza do que tinha feito.