TEMER E A ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO

Primeiro, foi a mesóclise. Chegou de mansinho, escondida no meio do discurso presidencial, parecendo até que queria passar despercebida. Afinal, há treze anos não frequentava aquele ambiente. Junto com outras expressões da mesma estirpe (próclise e ênclise), caíra em desgraça no último regime. Também pudera. Regras de colocação pronominal cheirando a mofo não combinavam com o propósito de uma pátria educadora, ágil e desburocrática. Daí, o pudor em reaparecer na boca do novo ocupante da casa depois de tanto tempo.

E nem era uma mesóclise muito enfeitada. Mas não teve jeito. Dado o ineditismo do “sê-lo-ia” naqueles rincões, a expressão chamou logo a atenção dos ouvintes, que pensaram tratar-se de um tropeço na fala do presidente. Ouvintes estes já acostumados com a naturalidade que fluía da boca do antecessor, ao mandar enfiar no rabo alheio qualquer coisa que o desagradasse.

Mas agora, com essa reabilitação, as portas estão reabertas. Depois da mesóclise e afiliadas, já estão na fila do Palácio, renovando as credenciais, os metaplasmos (quem se lembra deles?) prótese, epêntese e paragoge. Logo atrás, seus contrários: aférese, síncope e apócope. A metáfora e a metonímia, que andavam meio esquecidas, também esperam ganhar vida nova. Assim como o latim, que já havia se infiltrado naquela carta de rompimento no final do ano passado. Lembram-se?

Pois eu me lembro. E por isso devo fazer uma correção. Não foi a mesóclise. Primeiro, foi verba volant scripta manent (as palavras voam, a escrita permanece). Ali, ao ensaiar seu primeiro passo em direção à cadeira presidencial, o homem ressuscitou o idioma de Cícero, mostrando o seu estilo. E, segundo Buffon, “o estilo é o homem.”

De qualquer forma, independentemente da linguagem rebuscada, ou da possibilidade de o latim ocupar algum ministério na Esplanada, o que esperamos todos é o reencontro com a ordem e o progresso, conforme prometido pelo discursante. Apenas isso. Ser-lhe-emos gratos se cumprir a promessa. Data venia.