A VIDA QUE NÃO É VIDA
Estava chegando em casa, depois de uma pequena viagem que faço todos os dias, ida e volta, para ir ao trabalho, percorrendo os sessenta quilômetros da Estrada da Graciosa indo de Morretes até Curitiba.
Estava vindo meio incomodado, mas mesmo assim sem pressa, embora já estivesse passado da hora normal, e quando estava terminando uma reta antes de chegar na última curva que teria que fazer para sair da estrada, vi no lado esquerdo da rua, virada em uma pequena depressão, uma camionete Montana com duas rodas no ar ainda levemente girando.
Passei bem devagar por ela e vi depois as pessoas se aproximando e resolvi estacionar após a ponte, mais em frente, e ir dar uma olhada.
Moro a pouco tempo aqui então conheço poucas pessoas ainda da região, mas um ou outro sim, ainda sou tipo “doutor da cidade”, mas perguntei para um desconhecido o que tinha acontecido e ele me falou:
“Eles estavam fugindo da polícia que vinha atrás atirando e ai não vencendo a curva caíram na valeta, enquanto que o outro veículo com mais bandidos, e que vinha na frente, continuaram por esta outra estrada rural e a polícia deu preferência de os continuar seguindo e este carro ficou ai e os ocupantes fugiram pelo mato.”
Foi se formando uma aglomeração, como é normal, mas ninguém se chegava muito perto do carro, pois teriam que se apoiar no mesmo para olhar para dentro, mas eu, curioso que sou, me cheguei mais um pouco, e me apoiando no veículo vi que o som estava ligado e olhei para dentro do carro, mas não tinha nada de anormal.
E ai outros se chegaram também, uns brincando “quem sabe não tem uma maleta de dinheiro ai”, mas não tinha nada no carro, nem armas nada, e a aglomeração, todos do pequeno vilarejo que fica antes de chegar na cidade, foi aumentando, mas não se aproximaram mais do carro.
Logo antes desta curva onde eles capotaram tem uma ponte de ferro de uma mão só, então enquanto vem carro de um lado os outros do outro lado tem que ficar esperando, e ai eu fiquei pensando que se tivesse chegado uns minutos antes teria dado de cara com eles na ponte que, quem viu, disse que passaram a mais de 100 km/hora com a polícia vindo atrás atirando.
Tinha até uns furos de bala no veículo, que era novo, mas aquela música ligada me fez pensar:
“Estes caras, numa situação desta, ainda dirigiam o carro escutando música e ai senti a vibração que ainda vinha do carro, pois a vibração que senti vindo dali era braba, da chamada vida no extremo, sem limites, que muitos por vício levam, e por isso muitos acabam se tornando bandidos.
Senti a existência de um sumidouro que não passa em branco, a vida anímica ali era muito pesada e a foça abissal que pressenti leva para profundezas obscuras e inimagináveis da mente e da alma humana.
E sentindo esta vibração me afastei e fui para casa pensando como poucos minutos separam a nossa vida de um encontro como este, que para mim, provavelmente, teria sido desastroso, ou pelos tiros da polícia, ou por dar de cara com estes carros vindo a 100km/hora em cima da ponte sem ter para onde desviar, enquanto que o outro carro também resolveu sair da pista por onde eu vinha em linha reta.
Passei ileso e tranquilo, mas nada é por acaso e a minha falta de pressa também.
Minutos! A verdade é que a nossa vida é feita por minutos, a soma de todos os minutos, um por um, e eles ali fizeram a grande diferença.
No dia seguinte soube que todos tinham sido presos, inclusive os do outro carro. Eram bandidos da pesada que entraram na região errada, pois por ser uma área de preservação da mata atlântica, e turística, tem bastante policiais, e é um fervo nos finais de semana, mas, durante a semana, a cidade é pacata, e carros de fora chama a atenção, principalmente se só com homens dentro do carro, como no caso.
E aqui, como o nome da cidade diz, é cercada de morros e só tem duas saídas, onde em cada uma tem um batalhão da polícia e uma, a da chamada estrada da Graciosa, ainda é de paralelepípedos e cheia de curvas serpenteando a serra.
Ela é mortal para quem estiver fugindo, (já ocorreu outros casos) e para onde foi o outro carro, que acabou naturalmente capotando e presos os bandidos também.
Este termo “vida loka” foi meu vizinho, bem mais jovem do que eu, que me falou no dia seguinte quando contei para ele a história, disse que é a chamada vida sem freios.
E ai entendi o que é a “vida loka” que se fala e entendi a sensação que ela provoca e que senti ao olhar para dentro do carro.
Aqueles caras foram todos para a cadeia, mas eles não ligam, consideram fazer parte do jogo, e eles já não se imaginam em outra vida, pois a que levam se tornou um vício.
Um horror, e ai não tenho como não pensar de como é formada a nossa alma que, pelo que sentimos, unicamente pelo que sentimos, pode nos encaminhar para um céu anímico de paz e amor infindáveis, de onde podemos colher muitas alegrias, mas também a um sumidouro abissal, sem limite na sua profundeza, alimentada pela satisfação de todos os vícios e levada em cima da linha limite entre a vida e a morte, e de onde se alimenta a adrenalina dos bandidos que não são pés de chinelo.
Há muito penso de como é de constituição neutra e leve a nossa alma, assim como são os balões, mas que adquire peso e flutua de acordo com o que sentimos e desejamos, então a nossa vida pode ser levada a sumidouros, literalmente sem fim, de sofrimentos atrozes e obscuros, ou para paragens que estão acima de todo o tormento e dos sofrimentos anímicos, e onde estaremos leves e portanto livres dos pesos e das mazelas terrenas.
Paz ou tormentos, céu ou inferno, nós é que criamos com a nossa vontade e com o que sentimos, e com a espécie predominante dos nossos pensamentos e é, para estes lugares, devido ao peso que adquirimos na alma, que iremos quando livres do corpo terreno.
Então não adianta chorar, reclamar ou espernear, isto não adianta em nada se ainda tivermos pesos nos segurando no chão, ou sendo mantidos com grilhões nas profundezas do sofrimento anímico.
Só tem um caminho como solução: nos livrarmos dos pesos que carregamos e que causam os nossos sofrimentos, mesmo não sabendo nesta vida como os adquirimos, mas ajudas existem.
Já os bandidos descritos são tão embrutecidos que só levando a vida que levam para ainda se sentirem vivos, a maioria deles pelo menos, pois já estão num outro estágio, em um buraco negro muito longe da nossa imaginação.
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“Procura jamais deixar de atentar que todas as consequências do teu pensar recaem sempre sobre ti, segundo a força, o tamanho e amplitude dos efeitos dos pensamentos, tanto no bem como no mal.” Abdruschin em Na Luz da Verdade – www.graal.org.br
Estava chegando em casa, depois de uma pequena viagem que faço todos os dias, ida e volta, para ir ao trabalho, percorrendo os sessenta quilômetros da Estrada da Graciosa indo de Morretes até Curitiba.
Estava vindo meio incomodado, mas mesmo assim sem pressa, embora já estivesse passado da hora normal, e quando estava terminando uma reta antes de chegar na última curva que teria que fazer para sair da estrada, vi no lado esquerdo da rua, virada em uma pequena depressão, uma camionete Montana com duas rodas no ar ainda levemente girando.
Passei bem devagar por ela e vi depois as pessoas se aproximando e resolvi estacionar após a ponte, mais em frente, e ir dar uma olhada.
Moro a pouco tempo aqui então conheço poucas pessoas ainda da região, mas um ou outro sim, ainda sou tipo “doutor da cidade”, mas perguntei para um desconhecido o que tinha acontecido e ele me falou:
“Eles estavam fugindo da polícia que vinha atrás atirando e ai não vencendo a curva caíram na valeta, enquanto que o outro veículo com mais bandidos, e que vinha na frente, continuaram por esta outra estrada rural e a polícia deu preferência de os continuar seguindo e este carro ficou ai e os ocupantes fugiram pelo mato.”
Foi se formando uma aglomeração, como é normal, mas ninguém se chegava muito perto do carro, pois teriam que se apoiar no mesmo para olhar para dentro, mas eu, curioso que sou, me cheguei mais um pouco, e me apoiando no veículo vi que o som estava ligado e olhei para dentro do carro, mas não tinha nada de anormal.
E ai outros se chegaram também, uns brincando “quem sabe não tem uma maleta de dinheiro ai”, mas não tinha nada no carro, nem armas nada, e a aglomeração, todos do pequeno vilarejo que fica antes de chegar na cidade, foi aumentando, mas não se aproximaram mais do carro.
Logo antes desta curva onde eles capotaram tem uma ponte de ferro de uma mão só, então enquanto vem carro de um lado os outros do outro lado tem que ficar esperando, e ai eu fiquei pensando que se tivesse chegado uns minutos antes teria dado de cara com eles na ponte que, quem viu, disse que passaram a mais de 100 km/hora com a polícia vindo atrás atirando.
Tinha até uns furos de bala no veículo, que era novo, mas aquela música ligada me fez pensar:
“Estes caras, numa situação desta, ainda dirigiam o carro escutando música e ai senti a vibração que ainda vinha do carro, pois a vibração que senti vindo dali era braba, da chamada vida no extremo, sem limites, que muitos por vício levam, e por isso muitos acabam se tornando bandidos.
Senti a existência de um sumidouro que não passa em branco, a vida anímica ali era muito pesada e a foça abissal que pressenti leva para profundezas obscuras e inimagináveis da mente e da alma humana.
E sentindo esta vibração me afastei e fui para casa pensando como poucos minutos separam a nossa vida de um encontro como este, que para mim, provavelmente, teria sido desastroso, ou pelos tiros da polícia, ou por dar de cara com estes carros vindo a 100km/hora em cima da ponte sem ter para onde desviar, enquanto que o outro carro também resolveu sair da pista por onde eu vinha em linha reta.
Passei ileso e tranquilo, mas nada é por acaso e a minha falta de pressa também.
Minutos! A verdade é que a nossa vida é feita por minutos, a soma de todos os minutos, um por um, e eles ali fizeram a grande diferença.
No dia seguinte soube que todos tinham sido presos, inclusive os do outro carro. Eram bandidos da pesada que entraram na região errada, pois por ser uma área de preservação da mata atlântica, e turística, tem bastante policiais, e é um fervo nos finais de semana, mas, durante a semana, a cidade é pacata, e carros de fora chama a atenção, principalmente se só com homens dentro do carro, como no caso.
E aqui, como o nome da cidade diz, é cercada de morros e só tem duas saídas, onde em cada uma tem um batalhão da polícia e uma, a da chamada estrada da Graciosa, ainda é de paralelepípedos e cheia de curvas serpenteando a serra.
Ela é mortal para quem estiver fugindo, (já ocorreu outros casos) e para onde foi o outro carro, que acabou naturalmente capotando e presos os bandidos também.
Este termo “vida loka” foi meu vizinho, bem mais jovem do que eu, que me falou no dia seguinte quando contei para ele a história, disse que é a chamada vida sem freios.
E ai entendi o que é a “vida loka” que se fala e entendi a sensação que ela provoca e que senti ao olhar para dentro do carro.
Aqueles caras foram todos para a cadeia, mas eles não ligam, consideram fazer parte do jogo, e eles já não se imaginam em outra vida, pois a que levam se tornou um vício.
Um horror, e ai não tenho como não pensar de como é formada a nossa alma que, pelo que sentimos, unicamente pelo que sentimos, pode nos encaminhar para um céu anímico de paz e amor infindáveis, de onde podemos colher muitas alegrias, mas também a um sumidouro abissal, sem limite na sua profundeza, alimentada pela satisfação de todos os vícios e levada em cima da linha limite entre a vida e a morte, e de onde se alimenta a adrenalina dos bandidos que não são pés de chinelo.
Há muito penso de como é de constituição neutra e leve a nossa alma, assim como são os balões, mas que adquire peso e flutua de acordo com o que sentimos e desejamos, então a nossa vida pode ser levada a sumidouros, literalmente sem fim, de sofrimentos atrozes e obscuros, ou para paragens que estão acima de todo o tormento e dos sofrimentos anímicos, e onde estaremos leves e portanto livres dos pesos e das mazelas terrenas.
Paz ou tormentos, céu ou inferno, nós é que criamos com a nossa vontade e com o que sentimos, e com a espécie predominante dos nossos pensamentos e é, para estes lugares, devido ao peso que adquirimos na alma, que iremos quando livres do corpo terreno.
Então não adianta chorar, reclamar ou espernear, isto não adianta em nada se ainda tivermos pesos nos segurando no chão, ou sendo mantidos com grilhões nas profundezas do sofrimento anímico.
Só tem um caminho como solução: nos livrarmos dos pesos que carregamos e que causam os nossos sofrimentos, mesmo não sabendo nesta vida como os adquirimos, mas ajudas existem.
Já os bandidos descritos são tão embrutecidos que só levando a vida que levam para ainda se sentirem vivos, a maioria deles pelo menos, pois já estão num outro estágio, em um buraco negro muito longe da nossa imaginação.
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“Procura jamais deixar de atentar que todas as consequências do teu pensar recaem sempre sobre ti, segundo a força, o tamanho e amplitude dos efeitos dos pensamentos, tanto no bem como no mal.” Abdruschin em Na Luz da Verdade – www.graal.org.br