GABMAR
O mundo musical de Campina Grande está de luto, com a partida de Gabmar Cavalcanti. Músico tecladista, pianista, guitarrista, arranjador, dentre outros mais qualificativos, Gabmar emudeceu os sons que produzia em seus instrumentos com tanta maestria. Não mais nos deleitaremos com sua música e seus arranjos musicais.
Desde minha adolescência que me encantava sua música. Os bailes daquela época, as matinês nos clubes da cidade, os programas de auditório da Rádio Borborema, até os assustados nas casas particulares, Gabmar punha todos a bailar, facilitando inclusive os namoros pelo ar de romantismo dos seus acordes. O conjunto musical de seu irmão Ogírio Cavalcanti foi por muitos anos o palco de suas apresentações.
Sua música era especial. Advinda da sensibilidade aguçada resultante da sua deficiência visual, o teclado que era o instrumento de sua predileção emitia uma sonoridade rica de profundo sentimento em todas as melodias que tocava, fazendo os ouvintes deslizar no “dancing” maravilhoso da harmonia das notas musicais.
Gabmar, porém, há muitos anos não encantava sozinho. Ao conhecer a cantora Katia Virgínia, com quem se casou e com ela teve filhos, as plateias aplaudiam o músico e a sua “crooner”. Era o casal que levava alegria e felicidade a todos que os ouviam. Era o casal de agenda sempre cheia, requisitado pelos amantes da boa música.
Nas minhas segundas núpcias, Kátia e Gabmar preencheram os espaços da igreja e do ambiente da recepção aos convidados. A versatilidade que ambos tinham com a música, fez com que no templo o teclado de Gabmar se transmudasse em órgão e a voz de Kátia em coro angelical, penetrando os corações em canto clássico e religioso, para depois no local festivo se redobrarem em canto profano, em música popular. Todos cantaram e dançaram ao som de Kátia e Gabmar.
Não mais haveremos de nos deliciar com eles dois. Não mais sentiremos a harmonia da voz de Kátia em sintonia com o teclado de Gabmar. Não mais o teclado de Gabmar vibrará. Gabmar se foi para tocar no céu, onde será maestro dirigindo uma orquestra, sonho que na terra não realizou.
Mas, e a voz melódica de Kátia, o que dela será? Continuará viva, suspirando por seu amor, em cantos românticos e de saudade? Ou silenciará pela perda do amado, como o poeta Júlio Salusse se inspirou no soneto Cisnes: “que o cisne vivo, cheio de saudade, nunca mais cante, nem sozinho nade, nem nade nunca ao lado de outro cisne”? Quem sabe? Talvez o Dever de Cantar, CD por ela cantado, arranjado e gravado por Gabmar, fruto do eterno amor de ambos, algum dia dirá.