A culpa é da mãe

Antigamente era muito comum, os homens cuidarem da providência do lar, e as mães, restava lhes" a tarefa mais fácil ".

Quantas vezes ouvi dizer, que serviço doméstico, não é serviço.

É obrigação, é dever.

O chefe de família costuma ter um dia de trabalho pesado.

Afinal, são oito horas, de trabalho, poucos feriados e as vezes tinha que fazer horas extras para suprir as necessidades da família.

Fatigado, pela sua jornada, e ainda as preocupações com despesas e contas a serem cumpridas as datas. Ao chegar em casa era merecido o seu descanso, o silêncio, para repor suas energias, queria evitar aborrecimentos, e desgastes.

Todos os dias fazia o ritual de sentado no sofá, confortável e aconchegante descansava seus pés, apreciando um bom chá. E ancioso estava por muitis afagos e sorrisos.

Já a mãe se regozijava no deleite do seu lar. Mas será mesmo a mulher poupada de fadiga por estar tomando conta das tarefas do seu lar?

A mãe, a primeira a acordar, recolher o leite, esquentar o pão, pôr a mesa.

O chá na medida perfeita da degustação.

Tinha que controlar o silêncio, para não trazer aborrecimentos ao pai.

Enquanto tomava o seu café , penteava e amarrava fitas nos cabelos longos da filha mais nova. Preparava o casaco do filho e do pai. Quase esquecerá o jornal, que desatenta.

E ao mesmo tempo, avaliava o tempo pra lavar as roupas e alcançar os guardas chuvas as crianças. Ainda tinha que pensar no almoço, algo saboroso, econômico e perfeito. O simples descido ao estender a roupa, ou atender o carteiro, o aro queima a carne passa de mais e a frustração já logo a consome.

Mas ainda tem esperança de salvar a refeição, sem dar motivos de desgosto ao seu gentil marido.

Mas ele não concordava com esses descuidos, e a repreendia, contando lhe fatos acontecidos anteriormente à outras mulheres que acabaram abandonadas, trocadas, substituídas por outras mais competentes, e que algumas até ficavam sem seus filhos, por serem tão desatentas.

A mulher trêmula, escutava, e exausta, de sua rotina, sentia se cada dia morrer por dentro um pouco. Tudo aguentou, e sorria para fazer seus filhos felizes e dar esperança à vida dos seus filhos.

Quantas vezes esqueceu a camisa que caiu atrás da maquina de lavar, e lá vinha outra hestoria a ser contada.

O tempo passou, e ela manteve sua rotina anos a fio, ajudava as tarefas da escola, comparecia as reuniões, cuidava de um pequeno jardim.

Os filhos cresceram, e cada qual tomou seu rumo e ambos, não tinham muito apreço ao velho pai. A mãe, sorria e encontrava mil desculpas aos quais os filhos cediam ao convívio com o pai.

Um certo dia, o filho mais velho, saiu sem despedir de pai, e este chamou a mãe e disse:

Tu estás vendo a criação que tu destes aos teus filhos? A única tarefa que te foi incumbida tu falhasse, nem pra isso tu serviu. Se arrependimento matasse, eu já estaria morto. A culpa é tua. A culpa é sempre da mãe.

Ela calada, já sofrida, fragilizada, sem identidade de tanto se anular.

Pensou no seu pobre coração, realmente a culpa é minha.

Quem permitiu esse espetáculo anos a fio fui eu. Eu poderia ter sido forte, gritado e não aceitado, mas por medo, culpa, insegurança e falta de apoio, permite que pouco a pouco, matasse me dia a dia, com a ausência do companheirismo, cumplicidade, humanidade. Eu como mãe, nunca deveria ter aceitado a ausência de um pai, que esteve presente o tempo todo. Quão toa fui eu de carregar sobre meus ombros a responsabilidade de ser pai e mãe para o conforto "do pai".

Não arrependo me do amor que dediquei aos meus filhos, para que se tornassem pessoas de bem. Lamento, foi ter amado alguém que somente sugou minha vida, minha mocidade, e que acabou com qualquer resquícios de esperanças de que um dia a conquista fosse minha e não a culpa.

Incansavelmente fui durante anos, mas estou completamente cansada de lutar, eu casei para ser feliz e não para carregar o mundo nas costas e no final a culpa ser minha. Mas será minha?

Daniela Appariz
Enviado por Daniela Appariz em 09/05/2016
Código do texto: T5630454
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