Nem tão jovem assim...
Se tem uma frase que sempre me irritou essa é: “Nossa, mas você é tão jovem ainda!” – minha expressão sempre fechou ao ouvi – lá. Eu nunca fui muito jovem sabe, desde criança tive pressa de viver, corria em direção a maturidade longínqua demais para gente da minha idade, fugia dos rótulos e das diversões comuns. Nunca consegui desenvolver diálogos de vera interessantes com gente da minha idade, enquanto eles assistiam Malhação e comentavam sobre o paredão do Big Brother eu me encontrava nos poemas de Adélia Prado, entubava minhas prateleiras com livros do Rubem Alves, riscava as palavras subentendidas das crônicas da Clarice e tantas e tantas vezes me lia através das obras apaixonantes do Caio Fernando Abreu ou da Martha Medeiros. Sempre teve muito de mim nas obras desses escritores. Claro, não somente estes, Fernando Pessoa, Lya Luft, Vinícius de Moraes, Carpinejar, Veríssimo... Poderia citar por um século todos os escritores que eu sempre amei, mas não acho tão necessário. Eles estão em mim o tempo todo, na minha escrita, nas minhas crônicas, na minha forma de enxergar o mundo. Quem me lê os lê. Eles me fizeram escritora. Penso que se alguém tem pretensão de escrever, precisa antes de qualquer coisa ser um apaixonado por leituras. Já viu aquele tipo de gente que se perde e se encontra dentro de uma livraria? Que se vivesse de programar assaltos o faria primeiro na Saraiva do que na Prada? Encontre um desses aí, existem milhares espalhados pelo mundo, encontre – os e peça – lhes que escrevam um texto, não estou falando de um livro, estou falando de um texto, um único texto, verás do que estou falando. A escrita é entranhada no eu de um leitor bem como a melodia em um cantor. Nunca consegui entender o porquê do primeiro comentário ao terminar de ler alguns textos meus sempre serem: “Mas isso é tão profundo, você é tão novinha ainda...” – isso realmente importa? Eu não sou tão jovem assim, acho que nem entendo muito bem o que é ser jovem, eu já vivi muito, muito mais do que muita gente de meia idade. E o que Adélia, Clarice e Rubem viveram e registraram? Isso não conta? Eu vivi junto com eles, poxa. Eu vivi muitas e muitas vezes sempre que abria a página naquela história. E todas as vezes que Caio surpreendentemente descreveu meus sentimentos em suas cartas? Eu vivi aquilo também! Isso é experiência sim! Eu não sou tão jovem assim, somando meus vinte e poucos anos com toda a obra desses escritores, os quais me fizeram viver suas histórias, aprender com suas experiências e crescer, crescer muito, através de sua incontável sabedoria expressa na admirável escrita, eu devo ter mais de duzentos anos. Por favor, o ano que eu nasci pouco importa diante de tudo que já li nessa vida. Duzentos anos... Nem tão jovem assim!