O filme: A NOVIÇA REBELDE. Uma crítica.

Esse clássico me despertou pra música e pra vida.

Aprendi aos 9 anos que aquilo que Vinícius de Moraes cantara no “Samba da Benção” tinha o maior sentido: "samba é a tristeza que balança e a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não". Nos EUA já não é o samba, e sim o blues(surgido das marchas fúnebres dos negros) que é o choro cantado...ou seja, sempre há um tipo de canção que embalam os desencontros, desencantos e insucessos de um povo.

Posto isto, voltemos ao filme...

Lá na Austria, bem no início da segunda guerra mundial, aquele povo sofrido cantava gemidos “inespremíveis” na alma. O canto, servia de consolo, servia para amenizar a dor de estar sendo sub-julgada à Alemanha de Hitler.

A Áustria praticamente estava na eminência de perder sua soberania, consequentemente os cidadãos perderiam sua liberdade de expressão, liberdade de ir e vir. Pior ainda, o povo percebia-se num cativeiro dentro do seu próprio habitar. Como que, o tivessem seqüestrado, sendo o cativeiro, o seu próprio lar. (semelhantemente a 500 anos atrás, aqui no Brasil, os índios sofreram o mesmo desatino por conta dos portugueses, holandeses, franceses).

O pano de fundo do filme é a perda de identidade de uma nação, a desestrutura familiar, e a lavagem cerebral imputada pela Alemanha aos jovens austríacos daquela época...

Diante deste quadro, o inconsciente coletivo não poderia ser diferente ao da dor, da perda, do vazio, da presença da ausência, da saudade antes da hora, do choro que chega antes da tristeza anunciada, da saudade antecipada, da perda da vida que até então eles levavam, mas que sabiam que não iriam levar mais... Eles tinham ciência que o destino ou o acaso tinham pregado uma peça e tanta neles. Na realidade a tragédia grega mais catastrófica seria pinto perto das implicações da perda da soberania de um país para uma outra nação ocorridas numa guerra.

O povo tomou um susto terrível com a mudança de rotina. Até então o que se via naquele país eram as Freiras cantando nos altos ramos, os sinos tilintando, as feiras cheias de gente circulando pra lá e pra cá, a música cantada, dançada, as poesias declamadas, os namorados junto ao portão, as pessoas se casando e construindo suas casas e sonhos, as luas cheias, os ovinhos estalando fazendo o milagre da vida acontecer... até então a vida escorria pelos dedos, a felicidade batia a porta, tudo era como dizia o baiano Caetano Veloso: __”Tudo é divino maravilhoso”.

Mas que por uma obra catastrófica da história humana, um tirano cooptou a Alemanha despoticamente, e se tornara o grande algoz de dezenas de nações. Sendo que, uma delas é a Áustria, e dentro deste pacato país há uma família que carrega toda esta trama dentro de si. É possível perceber todo este drama nacional apenas na família

“Fontrap”.

Pra encurtar a história, o filme culmina com um festival de música onde a cultura do povo austríaco é novamente enaltecida como um foco de resistência...o teatro lotado se derrama em lágrimas quando juntos com a família “Fontrap” cantam uma canção chamada "Edelweiss"( uma flor que não nasce em nenhum lugar no mundo se não ali nas montanhas daquela região anunciando a chegada da primavera) numa comoção nacional.

A trama é recheada pela esperança, fé e desejo de liberdade onde a chave que abre essa cela é o afeto. Há dois personagens centrais pra entendermos mais ao desfecho dessa trama:

1_A noviça Maria...

Que sacrifica a "segurança religiosa" no "altar" da paixão. Troca os muros altos e fechados de um convento pelos cômodos abertos e arejados de uma mansão muito animada. Troca o noivado com Cristo por um casamento com um Comandante. Troca a disciplina rígida, pertinente de uma vida celibatária pra ser mãe de 6 filhos e esposa de um único marido.

Após a definirmos a figura feminina da dessa novela, a “anima” dessa trama, passemos pro “animus”, falemos dos conflitos da figura masculina:

2_O Capitão Fontrap...

Viúvo, que esconde seu luto contínuo através da entrega absoluta ao trabalho, no caso dele, entrega ao um militarismo. Militarismo que o possui de tal modo que domina não só o comandante, mas o pai, o cidadão, a filosófico de vida... e este estado de disciplina militar contínua que tinha instalado na alma dele, é impingido por ele nos filhos de um modo tal que há um afastamento existencial brutal entre filhos e pai aqui. O drama segue com sua prole fazendo muita traquinagem, mulecagem, travessuras pra chamar sua atenção...

Interessante, é que só depois dele redescobrir a música, é que o seu coração se liberta dessa consciência escravizante "militar" eu diria. E aí, e tão somente aí, ele redescobre o amor...

Como que o amor só fosse possível... o amor só fosse viável pra se conectar ao ser-humano, se este estiver envolvido por uma série de sensações químicas, físicas, psíquicas à serem experimentadas por sensações através dos sentidos(audição, paladar...)

É como que se a música fosse a síntese desse processo lindo que só pode emocionar o ser humano. A música não emociona nenhum outro ser da criação, só o homem chora, sorri, se arrepia ouvindo musica.

Ou seja, o amor só há quando há uma cópula entre corpo e alma, o amor só há,quando há uma relação "sexual" da música com o coração, uma valsa da esperança com a fé. Como diz o Livro de Eclesiastes, um dos livro bíblicos: "Deus colocou a eternidade no coração do homem".

E mais ainda, os filhos do viúvo Fontrap perdem um capitão tirano e ganham um pai, além de uma mãe maravilhosa...rsrs...(Quem não gostaria de ter sido filho daquela noviça moleca? Uma mocinha que cantava como anjo, tocava violão, brincava de bola, nadava no lago, subia em árvores, declamava, fazia as crianças interpretarem papéis em teatro, bonecos de fantoche etc...)

Em fim, é um filme que simbolicamente nos apresenta um caminho para todos os tipos de liberdade, onde é preciso coragem para romper com os padrões da mesmisse e conformidade. O lugar de chegada é o amor e o veículo/combustível que nos ajuda a chegar nesse alvo é a música...

Imperdível...

Abs de revellion no coração...

FlavioFerr
Enviado por FlavioFerr em 13/07/2007
Reeditado em 13/07/2007
Código do texto: T562937