FALTA TEMPO

É inevitável, mas o mês de Julho (assim como de Dezembro à Fevereiro), é sagrado para visitas.

Pessoas vêm de longe, outras vêm do bairro mais próximo, ficam até altas horas e isto quando não amanhecem na casa do anfitrião.

Ao anfitrião que antes lhe sobrava tempo, agora lhe falta, passava as noites "pesquisando" a vida do "mundo", escrevendo imbecilidades, amores, desejos e vontades, ilusões, vestia-se em sua nova roupa, aliás, entenda-se "nova roupa" como sendo "outra pessoa", coisas de dementes psicológica ou convenientemente doentes, porém o que vem ao caso neste relato é a falta de tempo...

Falta tempo para se repensar nos erros, no mal feito já feito, em toda aquela meleca jogada no ventilador, sem dó nem piedade apenas por olhar para seu umbigo esquecendo-se de que a vida é muito mais do que cuidar e intrometer-se na vida do outro.

Falta tempo para acordar para o mundo e para sí mesmo, justificar e pontuar seus erros para quem sabe transformá-los em algum acerto.

Falta tempo para cuidar dos afazeres de gente normal, dormir, comer, beber, tomar remédios (na hora certa!), cuidar da lição de casa ( a ensinada no catecismo da Igreja Católica e a da escola mesmo).

Falta tempo para colocar a cabeça no travesseiro para "dormir" e sentir o remorso (mas para o remorso existe o além túmulo).

Falta tempo para olhar-se no espelho e ver que aquela verruguinha no nariz não é de bruxa e nem de princesa, é apenas sua e está ali por algum motivo bem como a pedra está no sapato também para lembrar de algo.

Falta tempo para se tomar vergonha na cara e ser uma pessoa, gente, ser humano, crente (seja lá a que Deus ou a qual religião).

Falta tempo para ler, reler e "entender" os Dez Mandamentos (se for cristão), oras, "não cobiçarás a mulher do próximo" não é um dos mandamentos?

Falta tempo para criar juízo, pedir perdão se a pessoa errada foi você, se a mentira inventada, se a cana (entenda-se como "mé) foi por você, se a história mal interpretada e contada surgiu daí, desta mente maligna e suja que come, devora, dilacera e espalha com podridão a quem lhe rodeia.

Falta tempo para se conscientizar de que aqui se faz e aqui se paga, não há céu e nem inferno, mas existem demônios, em sua mente, nesta que coloca tudo de ruím por onde quer que passe ou toque.

Falta tempo para esquecer de ver o reflexo no espelho, o medo de ver a Medusa e se transformar em pedra talvez.

Falta tempo para o mundo ver tudo isso, e quando o fizer, e se fizer, talvez seja tarde, tarde demais para sobreviver.

Aí sim lhes digo, não há mais tempo!

Jean Miranda
Enviado por Jean Miranda em 13/07/2007
Reeditado em 13/07/2007
Código do texto: T562923