Classes? Sem classes!

Classes? Sem classes!

Tenho medo dos adjetivos; construção de sentidos. Responde, sempre, ao jogo social e, muitas vezes, é o que não é e nunca foi. Bom e ruim; sentidos erguidos por falantes medíocres e que analisam a partir do ínfimo e pífio ponto de vista que circunda o seu mundo. Eu sou deus!

Medo das interjeições! Espantam-se, facilmente, sem frequentar os porões do conhecimento. Meu deus! É preciso variar o repertório, deslocar e deixar de classificar. Caramba! Assustei-me com a pedra que faz todos tropeçarem pelo caminho.

Medo do substantivo! Substantivo humano, que nomeia e dá nome, talvez, precise ser nominado novamente. Substantivo coletivo que é comum e se julga próprio, contudo, é derivado e simples; sem contar que é primitivo – deslocando o seu sentido conceitual. Explica e esquece que tudo é substantivado e nada, também, é tudo; o nada é prenhe de sentidos.

Medo do artigo! Define, indefine; indica gênero. Indica? Caracteriza e apresenta; tudo à maneira que lhe provém, convém. Pelo menos é brincalhão e muda as coisas (classes gramaticais – só algumas) de lugar; pena que nós não sabemos mudar as classes sociais e todas conversarem entre si com isonomia.

Medo da preposição! Coitada! Inventário fechado, sem sentido; precisa de outro elemento para existir. Contudo, faz ponte, liga, conecta e encurta distâncias. Em um mundo que separa e exclui, ela busca unir e manter a coesão, entretanto, ainda tem a culpa de ser subordinada e se negar a sentir. De... é o quê mesmo?

Medo do numeral! É preciso sempre contar, quantificar? Quantas vezes deve se amar? Quantos momentos felizes e tristes vivemos? Quanto? Perde-se tempo marcando o tempo; perde-se vida fracionando, buscando ordem (ordinal ordinário), multiplicando ambições e numerando o que deveria só ser; simplesmente, ser. Quanto é a sua nota, numeral? Sem nota. Não é preciso quantificar, porém ... reticências!

Medo das conjunções! Simplesmente, em não variar, já mostram que são petrificadas. Conectam as orações, contudo, buscam dois termos semelhantes de uma mesma oração – elas não permitem diferentes? Tem que ter sentido completo? Tudo deve responder ao seu ponto de vista. Adicionam o que se quer... o tolo faz muito isso! Conclui... o medíocre e sua certeza absoluta; ainda dá ênfase em seu vazio discursivo! Explica tudo... o ignorante quer a resposta pronta e se perder no fechamento discursivo! Alternem, idiotas! Refutem (adversativas), apedeutas!

Medo dos advérbios! Modificam o sentido de outras classes, acrescentam ideias (juízo de valor?) e se modificam, todavia, são determinantes. Gostam de se associar a adjetivos, simplesmente. É preciso modo para viver? Nunca afirmo e nego sempre o sim! “meu tempo é quando”! Sou intenso e demais e muito, em excesso, bastante, assaz, enquanto outros tantos são nada, menos e tão pouco para a existência da vida. Querem determinar o modo e a circunstância! Excluem para se incluírem no jogo da aceitação e por ordem onde o caos é mais organizado. Meu lugar é alhures; o de alguns, aqui!

Medo dos pronomes! Gostam de se associar, de acompanhar. Assim são alguns, são tantos, mais do que imaginamos. Será que há alguém reto? Usa-se em lugar do nome! Tenho medo dos conluios desses sujeitos indeterminados determinados a tudo! Adora qualificar... e lá vamos nós, novamente, falar do julgamento a partir de um ponto. Oblíquos tratam com tratamento a indecência e são possessivos quando demonstram atitudes de vieses.

Medo dos verbos! Quanta regularidade e irregularidade! Opostos? Mostrem ação e façam todos agirem, assim farão parte da mudança. Somos todos anômalos e defectivos, mas querem nos regularizar. Deixem a abundância para a vida e o mundo se perder nas conjugações. É preciso flexionar a vida e o amor deve ser, sempre, em gerúndio; amando (adoremos o gerundismos!). Trabalhemos o subjuntivo e deixemos o imperativo no passado distante e ultrapassado. Para que ação certa? Indicar o caminho é puerilizar o percurso. O futuro é já e o presente é passado. Eu quererei o querer maior da vida. Tudo é ar; respiro vida. Tudo “er” e ir e vou para onde eu quiser... eis minhas conjugações de mundo!

Tenho medo da separação de classes (não, somente, as gramaticais!)!

Mário Paternostro