Mais respeito com as estátuas

          1. O Brasil vive seu momento sem celebridades. Falo de celebridades autênticas, irrecusáveis, indiscutíveis, inconfundíveis, legítimas.
          2. Por aí circulam, e até são homenageadas, muitas "celebridades", mas de frágeis pedestais. Não resistem à erosão provocada pelo passar dos anos.
          3. Não nasceram favorecidas pelo dom da eternidade. Desaparecem; somem. Não ficam para sempre na lembrança e no coração de seus contemporâneos.
          4. São celebridades - e aqui não pretendo ensinar padre-nosso a vigário - são celebridades, redigo, somente os inigualáveis; os venerados; os inesquecíveis. Assim reconhecidos porque se destacaram, por exemplo, na música, na literatura, na pintura, et cetera.
          5. Hoje, como ontem, costuma-se homenagear uma pessoa celebe erguendo sua estátua (em bronze, pode ser) nas praças públicas. Foi o que mostrou uma matéria recentemente publicada na Folha de São Paulo. E a matéria chama a atenção para o fato de que essas estátuas estão se transformando em "locais ideais para os selfies".
          6. Acho isso muito bom porque, ao optar por ser fotografado ao lado da estátua desta ou daquela celebridade, o cidadão, às vezes pouco informado, fica sabendo, pelo menos an passant, de alguma coisa sobre a vida e a obra do homenageado.  
          7. Passando, por conseguinte e em consequência, a dispensar ao ali representado a devida atenção; pedindo, no momento oportuno, mais respeito pelas estátuas, vítimas muitas vezes de desenfreado vandalismo.
 
          8.  A Folha, na interessante mas incompleta matéria, fala de estátuas conhecidas como a de Carlos Drummond de Andrade, erguida na praia de Copacabana (Posto 6), certamente a mais visitada pelos que perambulam por aquele simpático pedaço da orla da Cidade Maravilhosa.
          9. Outras estátuas, espalhadas pelo Rio, lembram as celebridades que ajudaram a escrever a história carioca. As estátuas de Caymmi, de Ary Barroso e a estátua de Tom Jobim, filho da terra, que, mais do que ninguém, soube acariciar seus conterrâneos com belas músicas.
          10. A matéria da Folha lembra outras estátuas de reconhecidas celebridades espalhadas pelo Brasil: a de JK e a de Brigite Bardot, em Búzios; a de Luiz Gonzaga e a de Jackson do Pandeiro, em Campina Grande (Pb); a de Juscelino com dona Sarah, em Brasília; e a do líder religioso Antônio Conselheiro, em Canudos, a cidade da guerra, no interior da Bahia.
          11. Mas para que a matéria fosse completa, a Folha devia ter lembrado as estátuas, em bronze e tamanho natural, dos escritores Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pelegrino, juntos, enobrecendo uma das praça de Belo Horizonte.
          12. Aqui em Salvador - e a matéria da Folha na falou -, Jorge Amado e Zélia Gatai, um ao lado do outro, estão numa pracinha, no Rio Vermelho, bairro onde eles moraram até partirem. 
          E em Itapuã, uma belíssima estátua, em bronze, de Vinicius de Moraes enriquece o panorama da praia que o acolheu por muitos anos e ajudou o poetinha a compor belas canções e românticos poemas.
          13. E para que a matéria da Folha pudesse ser considerada irretocável, o jornalista que a escreveu deveria ter incluído, no seu roteiro de notáveis estátuas, a de minha conterrânea, a escritora Rachel de Queiroz, erguida na Praça General Tibúrcio, a Praça dos Leões, em Fortaleza.
          Erguida, diga-se de passagem, nunca me conformei com isso,  em lugar errado: ela deveria estar no coração da Praça do Ferreira.
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 07/05/2016
Reeditado em 07/05/2016
Código do texto: T5628323
Classificação de conteúdo: seguro