ALICE E O ESPELHO
"O meu sucesso! A minha glória!" Ah, Alice e os devaneios... Tão aloprada que nem percebe o cigarro queimando entre os dedos - Alice menina, correndo desembestada pelo caminho dos bois no pasto, mais parece um bicho selvagem - abre os braços e corre com o vento - quer voar alto, acima das nuvens, quer subir com uma lufada de vento, mas o vento que traz o cheiro de bosta das vacas. Alice fecha os olhos e da risadas - ela é feliz em seu estado natural. Mal sabe ela, que o mundo dá voltas e as coisas mudam da noite para o dia. As mãos não seguram o vento e nem a boca sorve toda água da chuva. Um dia, a noite chega mais cedo e a lua fica no céu junto com o sol, então Alice abre a sua caixa de Pandora e deixa que saiam todos os seus segredos, todos os seus anseios - e assim, olhando os seus guardados voarem feito borboletas, ela não se dá conta do Tempo. Já não é mais menina, já não pode correr com o vento e nem pegar a cauda do cometa. O Tempo passou e Alice pariu um filho e não sentiu as dores, as rasgaduras, os suores - só ouviu o choro e alimentou a boca e agasalhou de amor - Alice sorriu olhando o filho. Depois dela cantar cantigas de ninar, a noite não foi embora, encalhou, fez o sol adoecer e cair de cama. A noite era feita de veludo e não cedeu lugar para estrelas e nem a lua apareceu - era só negrume e silêncio. Nem o vento com cheiro de bosta das vacas, nem o canto dos quero-queros, nem os grilos, nem as cigarras - era a solidão, a sua companheira. O cometa passou, Alice olhou o céu na esperança de ver o rabo do cometa e desejou segurá-la bem forte e viajar a imensidão - Halley foi embora e ela não.
Hermeto fez uma música nova, alguém foi à lua mais uma vez, fizeram uma passeata pelas "diretas já", pintaram o bondinho da Rua XV, o saxofonista anônimo toca blues na noite curitibana, Dalton não sai às ruas, Thor coloca poesias em garrafas e joga ao mar - Alice também escreve poesias no espelho do banheiro - passa batom nos lábios, arruma os cabelos vermelhos, limpa dos olhos as lágrimas e ler as poesias - até se perder dentro de um olhar. Alice já não é mais menina e o espelho diz isso enquanto ela insiste em escrever nos próprios lábios, o nome que tem no coração. Alice olha pela janela e o céu está lá, e o sol e a lua estão juntos - é o Tempo preso dentro do Tempo que faz Alice ficar menina e mulher para sempre.
"O meu sucesso! A minha glória!" Ah, Alice e os devaneios... Tão aloprada que nem percebe o cigarro queimando entre os dedos - Alice menina, correndo desembestada pelo caminho dos bois no pasto, mais parece um bicho selvagem - abre os braços e corre com o vento - quer voar alto, acima das nuvens, quer subir com uma lufada de vento, mas o vento que traz o cheiro de bosta das vacas. Alice fecha os olhos e da risadas - ela é feliz em seu estado natural. Mal sabe ela, que o mundo dá voltas e as coisas mudam da noite para o dia. As mãos não seguram o vento e nem a boca sorve toda água da chuva. Um dia, a noite chega mais cedo e a lua fica no céu junto com o sol, então Alice abre a sua caixa de Pandora e deixa que saiam todos os seus segredos, todos os seus anseios - e assim, olhando os seus guardados voarem feito borboletas, ela não se dá conta do Tempo. Já não é mais menina, já não pode correr com o vento e nem pegar a cauda do cometa. O Tempo passou e Alice pariu um filho e não sentiu as dores, as rasgaduras, os suores - só ouviu o choro e alimentou a boca e agasalhou de amor - Alice sorriu olhando o filho. Depois dela cantar cantigas de ninar, a noite não foi embora, encalhou, fez o sol adoecer e cair de cama. A noite era feita de veludo e não cedeu lugar para estrelas e nem a lua apareceu - era só negrume e silêncio. Nem o vento com cheiro de bosta das vacas, nem o canto dos quero-queros, nem os grilos, nem as cigarras - era a solidão, a sua companheira. O cometa passou, Alice olhou o céu na esperança de ver o rabo do cometa e desejou segurá-la bem forte e viajar a imensidão - Halley foi embora e ela não.
Hermeto fez uma música nova, alguém foi à lua mais uma vez, fizeram uma passeata pelas "diretas já", pintaram o bondinho da Rua XV, o saxofonista anônimo toca blues na noite curitibana, Dalton não sai às ruas, Thor coloca poesias em garrafas e joga ao mar - Alice também escreve poesias no espelho do banheiro - passa batom nos lábios, arruma os cabelos vermelhos, limpa dos olhos as lágrimas e ler as poesias - até se perder dentro de um olhar. Alice já não é mais menina e o espelho diz isso enquanto ela insiste em escrever nos próprios lábios, o nome que tem no coração. Alice olha pela janela e o céu está lá, e o sol e a lua estão juntos - é o Tempo preso dentro do Tempo que faz Alice ficar menina e mulher para sempre.