REENCONTRANDO BALIA

No ano de 1942, um casal, vindo de Dores do Turvo, chegava a Calambau com seus filhos, para trabalhar como empregados em uma fazenda.

Logo que chegaram, o pai adoeceu e a família passou por grandes dificuldades, não tendo nem o que comer. A mãe mandava algumas de suas filhas até a Vila de Calambau, como diziam naquele tempo, pedir esmola para matar a fome da família.

A situação foi piorando e o pai veio a falecer. Algumas pessoas caridosas, vendo a dificuldade passada pela família, resolveram trazê-la para a Casa de São Vicente.

Dona Cici, que passava sempre com o seu marido José Carneiro, de charrete, em frente àquela casa, a caminho da fazenda, ficou sabendo do acontecido e foi visitar a família, levando-lhe roupas e alguns mantimentos colhidos na fazenda.

Uma das filhas da família, a Maria, também conhecida por Lilia, na época com 13 anos, foi morar na fazenda para ser babá de um dos filhos da Dona Cici.

Depois de dois anos, a família da Lilia voltou para Dores do Turvo. Na hora da despedida da babá, o menino que tinha, apenas, um ano, se escondeu e começou a chorar. Ele gostava muito da babá a quem chamava de Balia.

De Dores do Turvo, a família mudou-se para Monlevade.

Setenta e dois anos depois, Maria, agora com oitenta e sete anos, resolveu voltar a Calambau para ir até o Cruzeiro para pagar uma promessa. Quando os missionários aqui estiveram para pregar as Missões, fincaram uma Cruz no ponto mais alto de uma montanha que circunda Calambau . A Maria, já morando com a Dona Cici, participou dessa festa.

Hoje, domingo, dia 01 de maio de 2016, Maria cumpriu a promessa. Veio de Monlevade com um neto e sua esposa, uma filha, e foram de carro até a metade do morro. Subiram o trecho mais íngreme a pé, pois o restante do caminho não permitia o acesso por carro. É inacreditável como ela conseguiu chegar ao Cruzeiro, já tão idosa e com problemas no joelho.

Cumpriu a promessa. Na volta, foi até o cemitério e, na sepultura da Dona Cici acendeu uma vela e orou por ela.

Faltava, agora, rever o menino que ela deixou chorando. Foi o que ela fez. Foi se informando até encontrar a casa do menino. Ao vê-lo, com grande emoção, o abraçou.

E eu, muito emocionado, fiquei sabendo que aquela senhora era a minha babá Balia.

Conversamos por muito tempo, ocasião em que lhe disse que tinha uma vaga recordação da minha babá a quem eu a chamava de Balia, e da qual a minha mãe Cici algumas vezes me falava. Foi um momento de grande emoção!

Murilo Vidigal Carneiro - Calambau ,01 de maio de 2016.

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Enviado por murilo de calambau em 06/05/2016
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