Batata Recheada
– às mães que vivem no céu de nossas lembranças
Doze batatas inglesas cozidas em salmoura. Carne bovina moída temperada... Não se sabe mais se cozida ou crua para o recheio – segredo daquelas nossas mães de cozinha, nem sempre consanguíneas, que guardam consigo e levam para aparecer em nossas saudades.
Não! Não se trata de uma receita culinária. É apenas uma crônica de sabor, lembranças e homenagens.
Aromas de temperos trouxeram aquela travessa de batatas que ela caprichosamente preparava como, geralmente, prato principal para o almoço domingueiro.
Ela levantava às cinco da madrugada, ascendia o fogo a lenha, preparava às águas para café e salmoura.
Mesmo morando já na cidade a família mantinha hábitos da fazenda. Empregados cedo na labuta e cozimento a lenha que vinha daqueles tempos rurais.
Ela não se importava com a madrugada. Fora acostumada. E tudo na cozinha fazia com gosto e para os gostos alheios. Doce, arroz-doce com muita canela em pau era seu predileto, ambrosia dos deuses, de laranja-da-terra era o meu preferido, doce de batata-doce e o fino amor-em-pedaço – os amores sempre despedaçados, até na culinária; se perfeito só em flores. Ah! Veio o sabor à boca do doce de mandioca com coco. Delícias que alimentam o diabetes de todos nós. Diabrete, diabo de açúcar!
Os pratos salgados não ficavam a dever. Aquele galo velho cozido pacientemente na panela de pressão. As canjas de galinha servidas com farinha beijú, aroma que fazia a casa salivar. Nhoque aos domingos era quase obrigatório também; servido com molho vermelho e sardinha azeitada desfiada.
Havia ainda os leitões cozidos e fritos guardados em sua própria banha nos enormes caldeirões da despensa – nunca gostei porque sempre me atacava o fígado este tipo de carne.
Pronto! Servi a mesa com todos estes alimentos preparados por ela. E o motivo eram as batatas recheadas. Elas eram cozidas, descascadas, esburacadas para dar lugar à carne moída como recheio e fritas à milanesa ou assadas com pinceladas de manteiga para dourar.
Isto me deu vontade de comer estas iguarias ao lembrar estes sabores. E como preparar estes pratos se ela levou consigo todas as receitas culinárias e a magia do preparo.?! Além do mais guardava na memória e não tinha livros ou cadernos de receitas; não sabia ler ou escrever. Ela gerenciava toda a cozinha da enorme família que éramos. Isto é que era talento! Talento de se doar para os filhos que não eram de seu ventre.
A casa toda acordava quando na cozinha o alho era socado para afogar os pratos do cardápio do dia.
Agora são as saudades que acordam ao som de nossas lembranças.
Aos domingos a manhã já estava adiantada e era hora de levantar e assistir à missa na capela do bairro.
– às mães que vivem no céu de nossas lembranças
Doze batatas inglesas cozidas em salmoura. Carne bovina moída temperada... Não se sabe mais se cozida ou crua para o recheio – segredo daquelas nossas mães de cozinha, nem sempre consanguíneas, que guardam consigo e levam para aparecer em nossas saudades.
Não! Não se trata de uma receita culinária. É apenas uma crônica de sabor, lembranças e homenagens.
Aromas de temperos trouxeram aquela travessa de batatas que ela caprichosamente preparava como, geralmente, prato principal para o almoço domingueiro.
Ela levantava às cinco da madrugada, ascendia o fogo a lenha, preparava às águas para café e salmoura.
Mesmo morando já na cidade a família mantinha hábitos da fazenda. Empregados cedo na labuta e cozimento a lenha que vinha daqueles tempos rurais.
Ela não se importava com a madrugada. Fora acostumada. E tudo na cozinha fazia com gosto e para os gostos alheios. Doce, arroz-doce com muita canela em pau era seu predileto, ambrosia dos deuses, de laranja-da-terra era o meu preferido, doce de batata-doce e o fino amor-em-pedaço – os amores sempre despedaçados, até na culinária; se perfeito só em flores. Ah! Veio o sabor à boca do doce de mandioca com coco. Delícias que alimentam o diabetes de todos nós. Diabrete, diabo de açúcar!
Os pratos salgados não ficavam a dever. Aquele galo velho cozido pacientemente na panela de pressão. As canjas de galinha servidas com farinha beijú, aroma que fazia a casa salivar. Nhoque aos domingos era quase obrigatório também; servido com molho vermelho e sardinha azeitada desfiada.
Havia ainda os leitões cozidos e fritos guardados em sua própria banha nos enormes caldeirões da despensa – nunca gostei porque sempre me atacava o fígado este tipo de carne.
Pronto! Servi a mesa com todos estes alimentos preparados por ela. E o motivo eram as batatas recheadas. Elas eram cozidas, descascadas, esburacadas para dar lugar à carne moída como recheio e fritas à milanesa ou assadas com pinceladas de manteiga para dourar.
Isto me deu vontade de comer estas iguarias ao lembrar estes sabores. E como preparar estes pratos se ela levou consigo todas as receitas culinárias e a magia do preparo.?! Além do mais guardava na memória e não tinha livros ou cadernos de receitas; não sabia ler ou escrever. Ela gerenciava toda a cozinha da enorme família que éramos. Isto é que era talento! Talento de se doar para os filhos que não eram de seu ventre.
A casa toda acordava quando na cozinha o alho era socado para afogar os pratos do cardápio do dia.
Agora são as saudades que acordam ao som de nossas lembranças.
Aos domingos a manhã já estava adiantada e era hora de levantar e assistir à missa na capela do bairro.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 01/03/2016
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