SEM IMPACTO
Li na advertência de um filme que assisti, não interessa qual, uma restrição etária dizendo que o dito cujo tinha "conteúdo impactante". Isso talvez signifique que em menores de idade o conteúdo de um filme não possa nem deva causar impactos. São esses os nossos tristes dias: rotina de acontecimentos inócuos. É o clichê da "zona de conforto" (tomei raiva por essa expressão, ela já me causa desconforto!). É essa também a diferença entre arte e entretenimento. Desistiram do desconforto que a arte pode nos causar. Tudo agora é para matar o tempo, não para vivê-lo melhor ou pior. Nada é para fazer diferença. Pode ser também apenas inapetência linguística do classificador etário. Mas não, é que nosso mundo está cada vez mais fútil e imediatista. Vale só a ilusão do momento. A pessoa assiste um filme em que um justiceiro mata 300 pessoas, sai do shopping para a rua, e arrega de medo ante viciados de crack de 10 anos de idade. Shoppings, casas, cinemas, televisão e igrejas se transformaram em Ilhas da Fantasia*.
* Lembrei-me de uma coisa dita por Phillipe Ariés em História da Morte no Ocidente, mas estou com preguiça de falar sobre isso. Mas acho que depois, se eu lembrar, vou escrever alguma coisa sobre como lidamos com a morte e com o corpo do morto. E como isso tem relação com o mundo sem impacto em que vivemos.