O SOM DO SILÊNCIO

Se você é daquelas pessoas que chega em casa e a primeira coisa que faz é ligar a televisão, parabéns: Você faz parte da maioria! Muitas vezes a TV serve apenas de pano de fundo ou para quebrar o silêncio: ouso dizer que bem poucos saberiam responder o que se passa na tela. É como se a quietude fizesse mal. Não raras vezes, a televisão serve como companhia. Partindo desse princípio, se fizessem uma medição automática da audiência, muitos programas de televisão elevariam consideravelmente seus índices sem que os telespectadores soubessem a integridade de seu conteúdo.

Com relação a esse comportamento peculiar, eu me considero um alienígena, pois só ligo a TV para assistir ao noticiário ou algum programa de minha preferência. Filmes também, a maioria em DVD. Na maior parte do tempo, acreditem se quiserem, eu gosto do silêncio.

Mesmo por que, silêncio é um termo relativo. Se você mora nos grandes centros urbanos, a sinfonia é variada: o ruído do trânsito, a discussão no apartamento do vizinho, o som do momento que o outro vizinho ouve num volume um pouquinho acima do tolerável. Eu já tive isso, pois morei num espaço insalubre, onde escutava de tudo um pouco: o filho malcriado da vizinha destratando a mãe mais uma vez, a briga diária via celular do meu vizinho com sua ex-mulher e, nas ocasiões em que ele bebia (todos os dias, sem falhar), era o ronco do pinguço que eu escutava pela madrugada, pois as paredes eram de madeira.

Hoje moro num lugar mais tranqüilo e não uso a televisão para servir de pano de fundo. Amo o silêncio do lugar onde moro, pois ele é permeado de vários ruídos mais agradáveis: o miado dos meus gatos pedindo comida ou carinho, o ruído do riacho que corre nos fundos da casa (extremamente poluído, pois a urbanização não poupou suas águas, mas o que vale é o ruído da água corrente e não o cheiro que ela exala) e, vez ou outra, o alarido dos bugios em uma mata próxima. A cidade onde moro, apesar de ter muitos problemas, ainda tem o privilégio de contar com algumas áreas de mata preservada.

São ruídos benfazejos de um silêncio relativo que a companhia artificial da televisão nunca vai substituir.