Pioneirismo do jornal “A Voz do Paraíso” (1901)
Luiz Carlos Pais
Luiz Carlos Pais
Esta crônica registra traços da história da imprensa de São Sebastião do Paraíso, MG, visando recolher fontes que possam contribuir na escrita da história da terra natal. O advogado José de Souza Soares, em sua obra de 1922, dedicou alguns parágrafos para registrar informações sobre a imprensa de São Sebastião do Paraíso, referentes às duas primeiras do século XX. Nessa parte, consta que “A Voz do Paraíso” foi o primeiro jornal impresso da cidade. O escritor registrou que a 1ª edição desse jornal foi lançada em 30 de maio de 1901, sob a direção de Antônio Simplício da Costa. O lançamento tornou-se realidade graças ao auxílio concedido pela Câmara Municipal, então sob a presidência do coronel Herculano Cândido de Mello e Souza.
Passados 115 anos do seu lançamento, ainda foi possível localizar dois exemplares desse jornal pioneiro no acervo da Biblioteca Nacional. A sua leitura permite conhecer um pouco mais da história da imprensa da cidade e possibilita aproximar do contexto social, político e econômico do início do século XX. Esse retorno mostra cidadãos militantes que contribuíram para o progresso cultural da cidade. Quase sempre, com limitados recursos, eles contribuíram na desafiante tarefa coletiva de formação de uma sociedade de leitores, tal como ainda fazem os empreendedores da imprensa do interior. Destacar eventos dessa época tem uma importância que, certamente, vai muito além dos limites regionais do nosso meio cultural e político.
A 9ª edição esse jornal pioneiro, que circulou no dia 27 de julho de 1901, foi impressa em formato simples de tabloide, com quatro páginas, numa oficina gráfica da cidade. Um aviso na primeira página dizia tratar-se de um órgão da imprensa popular, destinado a publicar assuntos de interesse locais. Avisava aos leitores que as seções reservadas às matérias pagas tinham o custo de 300 reis por linha de texto, alertando que o pagamento deveria ser feito antes da publicação, pedindo desculpas pelo fato de não abrir nenhuma exceção. O editorial da 9ª edição foi dedicado às dificuldades que a lavoura cafeeira regional estava enfrentando naquele momento.
O redator afirmava que a sinceridade pautada pelo jornal seria o termômetro do valor das ações humanas e ressaltava que os longos anos do regime de escravidão estavam na base da falta de competência para superar as dificuldades do novo regime de trabalho em vigor há pouco mais de uma década. No seu entendimento, a crise da cafeicultura daqueles anos seria superada, quando os fazendeiros superassem o regime de trabalho das colônias, modelo que substituiu ao da escravidão.
Ainda na 9ª edição foi publicado o falecimento do capitão João Ferreira dos Santos Carvalhaes, ocorrido em 21 de julho de 1901. Destacando tratar-se de um benemérito da cidade, o seu sepultamento teria sido um dos mais concorridos daqueles tempos. O capitão João Carvalhaes deixou seu nome na história como membro da Segunda Intendência Republicana de São Sebastião do Paraíso, de 1891 a 1892. Testemunhou a transição do regime imperial para a República, experiência compartilhada com Ângelo Calafiori, Calimério Augusto Soares, Manuel Rodrigues da Silveira; comissão presidida por José Aureliano de Paiva Coutinho, e secretariada pelo coronel José Luiz Campos do Amaral Junior.
No referido editorial ficou registrado que o capitão João Carvalhaes era membro da Loja Maçônica Fraternidade Universal. Por esse motivo os membros dessa instituição estiveram presentes no ato fúnebre. No sepultamento, discursou o juiz Luiz Sanches de Lemos, comissionado pela Loja, cujo orador oficial era Américo Benício de Paiva. Foi depositada sobre a urna uma coroa de flores com os dizeres: “Da Loja Fraternidade Universal a João Carvalhaes. Nossos pêsames a excelentíssima família”.
Outro evento noticiado na mesma edição, de abrangência nacional, foi a instalação, ocorrida em 21 de julho de 1901, do Bispado de Pouso Alegre, ao qual passou a pertencer a paróquia de São Sebastião do Paraíso. No mesmo contexto foi inaugurado o Seminário de Pouso Alegre, sob a liderança de Dom João Baptista Nery, quando estava ainda iniciando a sua formação sacerdotal, o jovem estudante José Philippe da Silveira, ordenado em 1907, que posteriormente deixaria seu nome inscrito na história religiosa, social e educacional de São Sebastião do Paraíso.
Os anúncios publicados indicam que o jornal circulava em São Tomás de Aquino, Canoas, Mococa, Cássia, Franca, entre outras cidades da região. Nos anúncios de São Sebastião do Paraíso, Moyses de Campos avisava aos interessados que tinham excelentes animais marchadores ou mulas para fazer viagens longas, para alugar ou vender, incumbindo-se de transportá-los para qualquer lugar do Estado de São Paulo. Sua residência situava-se nas proximidades da Lagoinha, no bairro da Mocoquinha.
O editorial da 15ª edição, de 7 de setembro de 1901, foi dedicado à necessidade de expansão das condições culturais da florescente São Sebastião do Paraíso. O editor defendeu a necessidade da abertura de um teatro para o deleite da sociedade local. Para isso, argumentou que a cidade estava sendo visitada por companhias teatrais e que não havia espaço adequado para as apresentações. Consta ainda nesse registro que a arte dramática estava sendo cultivada por vários artistas amadores da cidade e que a construção de um prédio apropriado seria um progresso desejado.
Finalmente, esse retorno permite destacar o esforço de vários jornalistas, educadores e historiadores, entre outros cidadãos que não mediram esforços para contribuírem com o progresso de Paraíso e de suas instituições por mais diferentes que possam ter sido suas bandeiras, tomando por princípio maior o respeito à diversidade de ideias e as diferenças plausíveis para a construção de uma sociedade plural.
Passados 115 anos do seu lançamento, ainda foi possível localizar dois exemplares desse jornal pioneiro no acervo da Biblioteca Nacional. A sua leitura permite conhecer um pouco mais da história da imprensa da cidade e possibilita aproximar do contexto social, político e econômico do início do século XX. Esse retorno mostra cidadãos militantes que contribuíram para o progresso cultural da cidade. Quase sempre, com limitados recursos, eles contribuíram na desafiante tarefa coletiva de formação de uma sociedade de leitores, tal como ainda fazem os empreendedores da imprensa do interior. Destacar eventos dessa época tem uma importância que, certamente, vai muito além dos limites regionais do nosso meio cultural e político.
A 9ª edição esse jornal pioneiro, que circulou no dia 27 de julho de 1901, foi impressa em formato simples de tabloide, com quatro páginas, numa oficina gráfica da cidade. Um aviso na primeira página dizia tratar-se de um órgão da imprensa popular, destinado a publicar assuntos de interesse locais. Avisava aos leitores que as seções reservadas às matérias pagas tinham o custo de 300 reis por linha de texto, alertando que o pagamento deveria ser feito antes da publicação, pedindo desculpas pelo fato de não abrir nenhuma exceção. O editorial da 9ª edição foi dedicado às dificuldades que a lavoura cafeeira regional estava enfrentando naquele momento.
O redator afirmava que a sinceridade pautada pelo jornal seria o termômetro do valor das ações humanas e ressaltava que os longos anos do regime de escravidão estavam na base da falta de competência para superar as dificuldades do novo regime de trabalho em vigor há pouco mais de uma década. No seu entendimento, a crise da cafeicultura daqueles anos seria superada, quando os fazendeiros superassem o regime de trabalho das colônias, modelo que substituiu ao da escravidão.
Ainda na 9ª edição foi publicado o falecimento do capitão João Ferreira dos Santos Carvalhaes, ocorrido em 21 de julho de 1901. Destacando tratar-se de um benemérito da cidade, o seu sepultamento teria sido um dos mais concorridos daqueles tempos. O capitão João Carvalhaes deixou seu nome na história como membro da Segunda Intendência Republicana de São Sebastião do Paraíso, de 1891 a 1892. Testemunhou a transição do regime imperial para a República, experiência compartilhada com Ângelo Calafiori, Calimério Augusto Soares, Manuel Rodrigues da Silveira; comissão presidida por José Aureliano de Paiva Coutinho, e secretariada pelo coronel José Luiz Campos do Amaral Junior.
No referido editorial ficou registrado que o capitão João Carvalhaes era membro da Loja Maçônica Fraternidade Universal. Por esse motivo os membros dessa instituição estiveram presentes no ato fúnebre. No sepultamento, discursou o juiz Luiz Sanches de Lemos, comissionado pela Loja, cujo orador oficial era Américo Benício de Paiva. Foi depositada sobre a urna uma coroa de flores com os dizeres: “Da Loja Fraternidade Universal a João Carvalhaes. Nossos pêsames a excelentíssima família”.
Outro evento noticiado na mesma edição, de abrangência nacional, foi a instalação, ocorrida em 21 de julho de 1901, do Bispado de Pouso Alegre, ao qual passou a pertencer a paróquia de São Sebastião do Paraíso. No mesmo contexto foi inaugurado o Seminário de Pouso Alegre, sob a liderança de Dom João Baptista Nery, quando estava ainda iniciando a sua formação sacerdotal, o jovem estudante José Philippe da Silveira, ordenado em 1907, que posteriormente deixaria seu nome inscrito na história religiosa, social e educacional de São Sebastião do Paraíso.
Os anúncios publicados indicam que o jornal circulava em São Tomás de Aquino, Canoas, Mococa, Cássia, Franca, entre outras cidades da região. Nos anúncios de São Sebastião do Paraíso, Moyses de Campos avisava aos interessados que tinham excelentes animais marchadores ou mulas para fazer viagens longas, para alugar ou vender, incumbindo-se de transportá-los para qualquer lugar do Estado de São Paulo. Sua residência situava-se nas proximidades da Lagoinha, no bairro da Mocoquinha.
O editorial da 15ª edição, de 7 de setembro de 1901, foi dedicado à necessidade de expansão das condições culturais da florescente São Sebastião do Paraíso. O editor defendeu a necessidade da abertura de um teatro para o deleite da sociedade local. Para isso, argumentou que a cidade estava sendo visitada por companhias teatrais e que não havia espaço adequado para as apresentações. Consta ainda nesse registro que a arte dramática estava sendo cultivada por vários artistas amadores da cidade e que a construção de um prédio apropriado seria um progresso desejado.
Finalmente, esse retorno permite destacar o esforço de vários jornalistas, educadores e historiadores, entre outros cidadãos que não mediram esforços para contribuírem com o progresso de Paraíso e de suas instituições por mais diferentes que possam ter sido suas bandeiras, tomando por princípio maior o respeito à diversidade de ideias e as diferenças plausíveis para a construção de uma sociedade plural.