COMO UMA FOTOGRAFIA
(FOTOS DO AUTOR)
Aquela imagem ressurge-me por vezes feito uma foto antiga,daquelas amareladas pela sépia do tempo.
Um menino retorna da venda.
Nas mãos : o volume que o avô encomendara . Na boca um gosto de bala de tangerina. A casa do avô é logo adiante.
Cantam os galos!
O terreiro é quase uma rinha onde , indomáveis , passeiam os índios brigões.
A tarde cai lentamente...O sol esmaece na várzea e o que lhe resta de luz doura na colina o tôpo da igrejinha.
Dos vitrais reluz entre a cruz e o campanário, um feixe colorido que se vai polvilhando pelo capão de mato. No meio do caminho,a moradia do imigrante polonês.
Os lambrequins descem enfileirados pela cumeeira e duas janelas arredias espiam a placidez da estradinha.
Encolhem-se retraídas entre as pereiras e na varanda,também em lambrequins,corre um assoalho de tábuas largas .
Dois cachorros vadios esparramam na madeira poeirenta o vazio de suas existências. Sentado num banco, o velho polonês de roupa surrada e chapéu de palha , transparece a fadiga de quem empunhou a enxada no decorrer do dia .
Agora, descança...Arranca dum violino uma melodia suave,dolente, adulada...Um tempero de saudade numa quase canção de ninar.Tamanha é a sutileza das notas que os cães,vencidos,adormecem.Sonham aventuras caninas enquanto o polonês rumina lembranças da Pátria que deixara além mar. Os arpejos vão-se esfacelando pelo vale com suavidade e mansidão de revoadas.Refugiam-se pelas casinholas,deslizam em ondas feito trigais ao vento.
Caroneiros das espirais de fumaça buscam o céu numa prece de fim do dia. Os cães entreabrem lentamente os olhos ao compasso de uma nota e outra.Em êxtase, estiram novamente suas vadiagens pelo assoalho ungido na pasmaceira da tarde.
A pequena vila é uma espécie de aldeia sagrada embalada pela melodia.
Detidas no silêncio aramado das cêrcas,ruminam as vacas,solidão e preguiça de suas vidas..."de vacas!".
Na estradinha de terra vermelha ,sem saber pra onde ir , vagueam acordes tristonhos dum violino ao entardecer.
Como numa fotografia o menino era tão somente um passante... Em frente à casa do polonês.
Na soleira da janela,entre uma tosse e outra,o avô lhe espera no velho e descorado casarão de madeira.
Joel Gomes Teixeira
(FOTOS DO AUTOR)
Aquela imagem ressurge-me por vezes feito uma foto antiga,daquelas amareladas pela sépia do tempo.
Um menino retorna da venda.
Nas mãos : o volume que o avô encomendara . Na boca um gosto de bala de tangerina. A casa do avô é logo adiante.
Cantam os galos!
O terreiro é quase uma rinha onde , indomáveis , passeiam os índios brigões.
A tarde cai lentamente...O sol esmaece na várzea e o que lhe resta de luz doura na colina o tôpo da igrejinha.
Dos vitrais reluz entre a cruz e o campanário, um feixe colorido que se vai polvilhando pelo capão de mato. No meio do caminho,a moradia do imigrante polonês.
Os lambrequins descem enfileirados pela cumeeira e duas janelas arredias espiam a placidez da estradinha.
Encolhem-se retraídas entre as pereiras e na varanda,também em lambrequins,corre um assoalho de tábuas largas .
Dois cachorros vadios esparramam na madeira poeirenta o vazio de suas existências. Sentado num banco, o velho polonês de roupa surrada e chapéu de palha , transparece a fadiga de quem empunhou a enxada no decorrer do dia .
Agora, descança...Arranca dum violino uma melodia suave,dolente, adulada...Um tempero de saudade numa quase canção de ninar.Tamanha é a sutileza das notas que os cães,vencidos,adormecem.Sonham aventuras caninas enquanto o polonês rumina lembranças da Pátria que deixara além mar. Os arpejos vão-se esfacelando pelo vale com suavidade e mansidão de revoadas.Refugiam-se pelas casinholas,deslizam em ondas feito trigais ao vento.
Caroneiros das espirais de fumaça buscam o céu numa prece de fim do dia. Os cães entreabrem lentamente os olhos ao compasso de uma nota e outra.Em êxtase, estiram novamente suas vadiagens pelo assoalho ungido na pasmaceira da tarde.
A pequena vila é uma espécie de aldeia sagrada embalada pela melodia.
Detidas no silêncio aramado das cêrcas,ruminam as vacas,solidão e preguiça de suas vidas..."de vacas!".
Na estradinha de terra vermelha ,sem saber pra onde ir , vagueam acordes tristonhos dum violino ao entardecer.
Como numa fotografia o menino era tão somente um passante... Em frente à casa do polonês.
Na soleira da janela,entre uma tosse e outra,o avô lhe espera no velho e descorado casarão de madeira.
Joel Gomes Teixeira