“EU POSSO ATÉ SAIR DO NORDESTE, MAS O NORDESTE NUNCA VAI SAIR DE MIM”

Essa assertiva, que pode ser aplicada a várias circunstâncias, diz respeito à formação do caráter e da personalidade do indivíduo que, por mais que queira em contrário, em algum momento há de se revelar.

A naturalidade nem sempre está atrelada ao local de nascimento. Pode até constar na certidão, estar no papel, como se diz, mas o local e os acontecimentos da infância e pré-adolescência, que ficam marcados de forma indelével na personalidade da pessoa, são eles, na verdade, os elementos determinantes da sua naturalidade.

Os sons, os odores, o meio rural ou urbano, cercas, porteiras, muros e portões, construções antigas, ruínas, árvores, os tipos populares, as figuras enigmáticas da vizinhança, a escola, a maneira de falar do povo, a convivência familiar no restrito âmbito residencial, o sabor dos alimentos, as brincadeiras, as tristezas, as alegrias, as conquistas e decepções, o primeiro beijo, o primeiro amor, as músicas características da época...

Tudo isso será sempre lembrado, muitas vezes, sem causa evidente.

Quando deixamos esses locais em busca de novas experiências ou pelo próprio desenrolar da vida, tudo aquilo que foi registrado até então, fica congelado num determinado espaço de tempo recôndito em nossa memória, e como fogo de monturo, alimenta o desejo onírico do retorno às origens.

Mas quando temos a oportunidade de voltar, experimentamos uma tremenda decepção, pois, como em nós, o tempo não parou e nada, ou quase nada mais, daquilo que vivemos, permaneceu tal como gostaríamos rever.

Então resta-nos a saudade que faz com que seja válida a segunda parte da assertiva, porque nossa vida pregressa é a base da atual e como não podemos voltar à primeira infância, mesmo que haja degeneração dos neurônios, nunca deixaremos de ser o que somos, porque o tempo não “volta para trás”, como gostariam os poetas portugueses Eduardo Dantas e Manuel Paião quando escreveram o fado.

“Oh! Tempo, volta prá trás.

Oh tempo, volta pra trás,

Trás-me tudo o que eu perdi.

Tem pena e dá-me a vida,

A vida que eu já vivi.

Oh tempo, volta pra trás.

Mata as minhas esperanças vãs.

Vê que até o próprio sol,

Volta todas as manhãs.”