TEMPOS TRISTES
Que vergonha é para o mundo culto!... Meu Deus!
Como pode a Bahia, à guisa de exemplo, sob comando da mídia imposta, estar atualmente investindo na contracultura no estado e, por decorrência, na nação de muitos políticos corruptos, achincalhadores do poder por aqui e no planalto central, vendedores cruéis de bens e valores nacionais ao capital estrangeiro.
Corruptos mordem pontas em processos vis, em crimes de lesa-pátria e corroboram com o apodrecimento material do país, o qual, de forma premeditada, está também a destruir todos os demais valores do povo. Sim, refiro-me diretamente aos criadores de pseudovalores e dos desdobramentos destes, moldados e destinados para o ato criminoso de ludibriar o povo inocente, imerso em carências mil e, pela ação governante, posto a viver sem boa qualidade de vida, de modo que considerável parcela da juventude e dos ditos velhos (seres portadores tão-somente de idades cronológicas!) acreditam que a vida para o ser humano repouse em lances momentosos, em flashes de encantos e gozos, como aqueles gerados por lindas moçoilas do tipo semelhante às utilizadas pelo É O Tchan, com tentadores rebolados de genitálias insinuantes ou direta expressão de explícito apetite sexual dirigido aos homens, beldades induzidoras de moda no vestir das mulheres que desejam imitá-las, agradar pretendentes, além de imoralmente ditarem roupas sensuais para crianças inocentes, em tenra idade. Somam-se ao contexto de tal propaganda danosa às potentes vozes (Paulo Fortes, Agnaldo Rayol, Agostinho dos Santos, Marisa... que me perdoem, os vivos e os mortos, pela comparação esdrúxula!) e as magníficas letras e músicas (que a alma de Castro Alves tenha paciência comigo!) dos integrantes daqueles conjuntos musicais (com licença da má palavra!). Cultuam e cultivam o esplendor de capacidades artísticas (que Deus e os verdadeiros amantes da arte verdadeira me perdoem!).
O processo deletério em foco, empobrecedor e comprometedor da evolução da sociedade dos homens, contempla esquecer vultos como o maestro Carlos Gomes. Por sorte, ainda temos Caetano Veloso, João Ubaldo e não faz muito tempo que Jorge Amado partiu deste mundo para o além  sem dúvida, envergonhado pela perda axiológica decorrente dessa trama perversa imposta ao povo pela mídia falsa, interesseira, perigosa e danosa à sociedade ora concentrada em elementos carentes, desinformados, alienados, drogados, idiotizados... Fica ela, pois, conforme já fora dito modernamente em certa música de Zé Ramalho, qual “povo marcado” em comparação e/ou substituição à expressão “gado ferrado”.
Fico triste ao ver que tudo é moda!... tudo é igual!... não é necessário pensar-se, não é preciso manter-se na posição de único ser pensante neste planeta, muito menos por aqui!; e, por decorrência, estão a desaparecer os valores de referência do estado e do povo, num processo assustador e medonho (coisa do demônio!), o qual tem levado o cérebro humano a entrar em latência, haja vista a letargia com a qual se arrasta hoje, num instante histórico de alienação profunda, que ataca, corrói e destrói a mente adulta e priva e mata a ainda nascitura e em formação.
Penso que o ser humano novíssimo vive um momento ou algo parecido a dar adeus à crítica cosmológica. Sei que a grande parcela do povo, muitíssimo mais que em tempos idos, já não sabe mais apreciar a arte nem os valores positivos da cultura e sequer possui elementos para tal façanha. Mais diretamente à Bahia e ao Brasil, o baiano e o brasileiro já se me parecem ter lamentavelmente esquecido de inúmeros outros nomes da história da Bahia majestosa, de tanta riqueza, de muito esplendor.
Acredito podermos comprovar que grande parte da população já não saiba de coisa alguma que encerre real valor cultural. Portanto, lastimavelmente, o saber se me mostra faltoso para com a dignificação do homo sapiens e para com o nosso grande Criador (por certo, muito sofredor com toda essa canalhice sem limites e que tanto tem castrado o nascedouro do bem-estar entre os homens valorosos).
Ignoram-se Navios negreiros, Espumas flutuantes, Oração aos moços, a História da Bahia (e do Brasil), a data 2 de julho, as músicas de Dorival Caymmi e tantas outras preciosidades baianíssimas ou baianas da gema, senão autênticos patrimônios nacionais e da Humanidade.
Lamento que tanta gente inocente mantenha os corpos sãos e as mentes ocas ou vazias, todavia entendo a razão e os aspectos deletérios do que ora exponho decorrem do domínio maquiavélico, planejado contra a sociedade por expertos, projetistas de crimes que deformam a natureza do homem; e, só me resta pensar que o “lobo do homem” ainda esteja bem vivinho! E, cá com meus botões, indago até quando haveremos de conviver com esta terrível involução do homem? É a isso tudo que chamamos de tempos pseudomoderníssimos ou não seriam mesmo hodierníssimos?
Tenho certeza de que posso substituir a Bahia por qualquer outro estado brasileiro e este texto poderá ser adequado para a realidade inerente ao povo mirado, sem perda alguma da mensagem sobre a deformação social dos tempos atuais.
Lamento!
Salvador, 20 de novembro de 2002.