Reverência ao frio

Que alegria foi caminhar pela cidade nessa manhã fria de outono. Não vesti nenhum agasalho, preferi sentir um pouco daquilo que ficou raro por essas bandas. Achei melhor aquecer-me andando pelas ruas sob o sol, enquanto via o sorriso dos que vinham de encontro. Senti-me mais jovem uns vinte anos sem o tormento daquele calor estafante e fora de hora. Acho que não faz mal um pouquinho de inveja dos irmãos da Patagônia que têm por mais tempo em cada ano essa paisagem de vida feliz. Mas, para não ter sequer um tiquinho desse mau sentimento, talvez seja melhor mudar-me para o sul.

O céu depois de um dia nublado que trouxe a frente fria, amanheceu nevoento e aos poucos foi deixando passar o azul da beleza do mundo. Gente bonita, encolhida, mas, contente. Sorrisos brancos fugindo da sombra e os olhos das mulheres ainda mais límpidos que o céu. Aliás, as mulheres são ainda mais lindas no frio. Elegantes com seus looks de inverno que aqui no sudeste, saem dos guarda-roupas no máximo dois dias por ano. Vou guardar na memória essa manhã agradável de outono verdadeiro. Coisa que era normal por aqui algum tempo atrás, quando as estações do ano eram quatro.