Um relógio, seus estilos e a fala do irmão engenheiro
Há pouco tempo, meu irmão engenheiro retornou à casa onde moro com os meus pais. Adulto jovem, com farta bagagem na sua área de atuação, não costuma ser adepto de conversas banais.
No entanto, surpreendeu-me a sua atitude na hora do almoço, em que os demais membros da família-pai, mãe e irmã- estavam à mesa:
--Não foi a mãe que comprou aquele relógio da parede, né, Roberta?
--Não foi não. Fui eu.
--Só podia. A mãe teria comprado algo mais suave... Meio estranho, você não acha não?.. Bem a sua cara mesmo...
De fato!..
O relógio de parede havia sido comprado por causa do baixo preço. Embora não fosse um objeto extravagante e tivesse poucas cores, continha ao fundo o desenho de uma taça de vinho inclinada e destoava da cozinha decorada por minha mãe- cores claras, suaves: bege, branco...
Ao comprá-lo, eu havia ignorado totalmente esses detalhes: havia visto só o preço e o meu gosto.
Uma taça caída, líquido vermelho derramado: eram esses os detalhes que denunciavam a compradora do item.
Um relógio e um desenho: expostos nossos estilos, tudo o que nos resta é assumi-los.