OUTONO DE VERDADE
Não respondeu à chamada natural no final de março, mas veio hoje. Saiu da sua letargia apressado, para mostrar sua presença, atrasado. Olhei para a cara do dia 28 de abril de 2016, às seis da manhã, percebendo sua má vontade comigo. Relutei em sair para a caminhada habitual à beira-mar de Itaipuaçu, pela impetuosidade da ventania, mas Lembrei-me dos conselhos do Dr. Leonardo, que olha meu coração vez ou outra, e fui. A poeira da beira da praia, de terra batida, misturava-se à sua fina areia e as gotículas do mar. O vento tudo carregava, misturava e jogava sobre os caminhantes. Por isso, Abriguei-me sob o alpendre de um portão de residência e ali fiquei observando uma árvore que resistia ao mau humor da natureza. Era uma amendoeira. De tempo em tempo o vento arrancava-lhe uma folha meio amarelada, que se perdia na areia. O descarte é natural, é da estação. Mas, que árvore é aquela que com imponência resiste à procela, arraigada na sua cela, não se importando com as folhas amareladas que se vão... Devíamos ser assim... Mas, quando uma tormenta vem na nossa vida, nos desarraigamos e corremos pelas folhas que se foram. Desarraigados, enfraquecemos, perdemos imponência, seiva, expomos nossas raízes e morremos. Desejei ser aquela amendoeira vergando ao fragor do vento, perdendo folhas amareladas, convivendo com a “erva-de-passarinho”, abrigando na sua copa vida que se renova, pássaros alegres cantam nela e, no meio da tormenta, continua a se mostrar viçosa, verde e bela.