O LOUVOR AO TRABALHO E À HUMILDADE.

Já li muito sem aprender bastante, ansioso e já ciente de nossa estatura limitada, somos pequenos para aprender o tanto pretendido, nem tempo para viver e aprender temos, vivendo muito vivemos pouco diante desse universo enigmático, não há suficiência temporal para absorver a fenomenologia dos seres, da natureza, das forças, desse universo próximo e do cosmos distante. Elementos da fotossíntese poderão carregar um celular, energia, por exemplo, como demonstrado agora por estudantes em pesquisa na Espanha. Somos pouco e quase nada de um muito desconhecido. Acima disso tudo está o muito da sensibilidade abrigada e contida em seus soluços de verdade pela alma definida, como nessas palavras de beleza rara e para mim pouco vistas de um anjo de humildade que pelo nosso chão que tão bem conheceu transitou. Minha reverência inteira para sua nobreza e sabedoria. "Mãos para dar,unir e abençoar", "Nunca para elas o brilho dos anéis". Celso

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Estas mãos

Olha para estas mãos

de mulher roceira,

esforçadas mãos cavouqueiras.

Pesadas, de falanges curtas,

sem trato e sem carinho.

Ossudas e grosseiras.

Mãos que jamais calçaram luvas.

Nunca para elas o brilho dos anéis.

Minha pequenina aliança.

Um dia o chamado heróico emocionante:

- Dei Ouro para o Bem de São Paulo.

Mãos que varreram e cozinharam.

Lavaram e estenderam

roupas nos varais.

Pouparam e remendaram.

Mãos domésticas e remendonas.

Íntimas da economia,

do arroz e do feijão

da sua casa.

Do tacho de cobre.

Da panela de barro.

Da acha de lenha.

Da cinza da fornalha.

Que encestavam o velho barreleiro

e faziam sabão.

Minhas mãos doceiras...

jamais ociosas.

Fecundas. Imensas e ocupadas.

Mãos laboriosas.

Abertas sempre para dar,

ajudar,unir e abençoar.

Mãos de semeador...

Afeitas à sementeira do trabalho

Minhas mãos raízes

procurando a terra.

Semeando sempre.

Jamais para elas

os júbilos da colheita.

Mãos tenazes e obtusas,

feridas na remoçãode pedras e tropeços,

quebrando as arestas da vida

Mãos alavancas

na escava de construções inconclusas.

Mãos pequenas e curtas de mulher

que nunca encontrou nada na vida.

Caminheira de uma longa estrada.

Sempre a caminhar.

Sozinha a procurar

o ângulo prometido,

a pedra rejeitada.

Cora Coralina – do livro: Meu livro de Cordel

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 27/04/2016
Reeditado em 27/04/2016
Código do texto: T5618183
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