VEM VER DE PERTO
Olhando de longe não se enxerga a hipocrisia, a covardia, o desespero...
Vem ver de perto a falsa alegria nas “maravilhas” do Rio de Janeiro
Vem ver de perto na cobertura o filho do arquiteto e do engenheiro
Contemplando a rua que é morada do filho de doméstica e de pedreiro
Vem ver de perto o filho do empresário brincando sozinho e solitário
Ali ao lado, bem pertinho do filho do operário;
Vem ver de perto o medo provocar calafrio, vem sentir o sabor da fome
Vem saciar a sede num copo vazio, vem ver de perto um monstro sem nome
Vem ver de perto este torrão
Onde a desigualdade está presente em 27 lugares
Vem ver de perto a corrupção alcançar os mais altos patamares;
Vem ver de perto perversos tiranos
Impondo impunemente seus tratos desumanos
Vem ver de perto alguns malditos humanos cortando as asas dos nossos anjos
Vem ver de perto indecentes marmanjos
Dilacerando a pureza, rompendo a decência, corrompendo a inocência;
Vem ver de perto este país-continente
Onde o pranto jorra como um chafariz, dos olhos de milhões de indigentes
E o riso aflora dos lábios mentirosos de alguns poderosos
Que comemoram um fim trágico e iminente;
Vem ver de perto a saúde sem recursos, abandonada e doente
Vem ver de perto escolas sem aulas e hospitais sem leitos
Vem ver de perto um paciente sair cego ou mutilado
Depois de entrar “perfeito”
Vem ver de perto o país do futebol, ser excelência em tiro
Vem ver de perto tudo a que me refiro;
Vem ver de perto a minha gente que “não pertence” ao Rio de Janeiro
Vem ver de perto a Baixada Fluminense e as Zonas Oeste e Norte
Vem ouvir baixinho o estridente grito da morte
Morte espiritual, morte social, morte cultural...
Vem ver de perto o quem somos realmente
E então, publique no mundo o que somos verdadeiramente
Um insucesso emergente ou um sucesso imergente?
Vem ver de perto.