World Trade Center

O homem não quis se distanciar muito de sua ignorância milenar e, enquanto evoluía, regrediu. Desceu como bólide desgovernada, descontente e fria e o seu passado errante lembrou-se de encher o tempo perdido com o vazio das trevas e pôde então tornar-se mais perverso ainda. Atingiu o que não lhe era permitido atingir.

O mundo inteiro assistiu alarmado às cenas pavorosas que a tecnologia mostrou. Ouvimos, quase que ao mesmo tempo em que ela foi produzida, a grande explosão que o terror jamais fizera antes. Fez-se a anunciação do tamanho de nossa hipocrisia. Acho que podemos anunciar isso, em nome de budistas amarelos, brancos evangélicos, católicos pretos e mulatos céticos, além, é claro, de terroristas ateus, insípidos e incolores, porque quem ama um Deus forte, não consegue engrendrar tanto ódio.

Mergulhamos no mais profundo fosso da vergonha humana. Voltamos a ser simples macacos mortais. O furor da violência nos espremeu ante as tábuas das leis e fomos pequeninos demais. Como é triste relembrar a morte feroz no episódio do “World Trade Center!” O imenso vulcão da insensatez bafejou nos ares novaiorquinos, mostrando-nos a ação do Anti-Cristo.

Perdemos o norte. Achamos o deus morto de Nietzsche, materializamos até a nossa alma e ainda falamos que fizeram tudo em nome Dele. O maior de todos os absurdos foi tê-lo dito feito em nome Dele. Qual Deus permitiria tal monstruosidade?

O planeta se asfixiou com a fumaça parda que surgiu dos escombros, dando a real cor do nosso infortúnio. Afogamo-nos dentro dela, esquecidos e perdidos de nós mesmos. Há de se limpar a humanidade. Nem tudo está perdido. Existem almas clamando pela reconstrução, não só do W.T.C., como também do resto do mundo. Nos escombros das torres gêmeas derrubadas, ficará para sempre o retrato emoldurado da falibilidade do ser. Do quadro, o poeta não pode tirar seus versos, porque o luto escureceu as páginas do caderno. A morte apagou momentaneamente as luzes da vida. Brotou, instantes depois, no clamor dos que sentiam a dor e gemiam, uma pequenina esperança, lambida pela alegria de se ter sobrevivido à tragédia.

Uma infinidade de terroristas assistiu a tudo: os que assistem e promovem a fome de crianças negras da África, os que desgovernam na Ásia, os que roubam e oprimem nas Américas, os que se omitem encastelados na Europa e os que nem sequer se lembram da dor humana no paraíso australiano.

Precisamos mudar! Temer a Deus e reconstruir o espírito com novas motivações. Segurar a humildade e com ela ceder. Não somos tão donos do planeta, como realmente parecemos ser. Nada é tão vergonhoso aos justos quanto o desamor. A fome do corpo carnal é muito mais tolerada quando sentida nos ombros da paz do espírito. Aos terroristas, Deus, para que não possamos mais enxergar tamanha desgraça, saída de seus ventres vazios, já que não consigo acreditar que tenham mentes. A nós, a fé no recomeço sem nenhum ódio, só olhando para a frente.