ESCRITOR E LEITOR EM SINTONIA
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Montaigne, escritor francês, séc. XVI, já falava nessa sintonia, com vantagens para o leitor: “Um leitor inteligente descobre frequentemente, nos escritos alheios, perfeições outras que as que neles foram postas e percebidas pelo autor, e lhes empresta sentidos e aspectos mais ricos”.
Fernando Pessoa confessa: “A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta”. Sem a arte a vida não é bastante. Fica faltando “oh, um pedaço de mim”, de meu mundo, pois sem o admirável mundo da arte. Imagine-se o mundo sem música nem dança, sem balé aquático nem na ponta dos pés, sem coreografia nem ópera, sem pintura, sem arquitetura, sem escultura, sem o cinema, sem poesia, sem nascer nem pôr do sol, sem lua nem mar...
Cada arte é uma fatia de outro mundo compartilhada entre aqueles que chegam até lá, nas alturas, seja para produzir, interpretar, apreciar. No caso da literatura, pobre daquele ou daquela que não aprecia livros nem lê versos. Vive uma vida marginal, à margem da história, à margem do fantástico mundo da arte, à margem da poesia. Pobre de espírito, também, quem somente pensa no poder pelo poder, na fama, nos holofotes, no dinheiro. Obsessões essas constituem banalização do ser humano, da cultura e, na política, do cidadão eleitor.
A arte, ao longo dos tempos, deixou-nos obras imorredouras, proporcionando, inclusive, o contato com o mistério. Catedrais góticas cujas torres apontam para o céu. Composições clássicas. Pinturas tridimensionais. Linhas retas, curvas, perspectivas. Obras falantes para quem tem ouvidos de ouvir, visíveis para quem tem olhos de ver, palpáveis para quem tem o sentido de palpar.
Cícero, orador politicamente engajado, autor de Catilinárias, disse esta frase, em latim: "Si apud hortulum bibliothecam habes, nihil deerit". Se, ao lado da biblioteca, tens um pequeno jardim, nada te faltará. Cícero, a.C., um amante da leitura, e... de bem com a natureza.